Sepultura, Offspring e Red Hot garantem alto astral no último dia de RiR
Depois de seu dia mais intenso (quando as apresentações do Who e dos Guns N' Roses mostraram extremos do festival), o Rock in Rio 2017 encerrou suas atividades num domingo confortável e comportado, embora de estética pesada. Com uma das maiores lotações de todo o festival (perdendo apenas para as duas noite anteriores), o sétimo dia do Rock in Rio tinha como foco central a apresentação dos Red Hot Chili Peppers, o que garantia a onipresença das camisetas com o logotipo da banda, mas o público foi bem receptivo para todas as atrações da noite.
E apesar do teor político do show sempre idêntico do Capital Inicial e da pífia apresentação da banda 30 Seconds to Mars (que funciona apenas como um veículo de autopromoção de seu vocalista, o ator Jared Leto), os destaques da noite foram aqueles que puxaram o peso da programação do domingo (24), transformando-a em uma das noites que melhor conversaram com o rock que batiza o festival.
O Sepultura, que encerrou as atividades no palco Sunset, mostrou que é uma das principais bandas de rock pesado do país sem muita dificuldade. O carisma do vocalista Derrick Green, a enxurrada de decibéis graves, a paixão intensa de seus fãs e um repertório de hits forjado no auge da banda (quando os irmãos Cavalera ainda tinham alguma relação com ela) fizeram do show um dos grandes momentos do domingo, abrindo rodas de pogo e empurra-empurra agressivas sem ser belicosas, fazendo fãs gastarem testosterona de forma saudável na multidão. Deu até pra ignorar a participação surreal da Família Lima, que subiu ao final da apresentação para acompanhar o grupo na clássica “Roots Bloody Roots”. Não que as cordas causassem qualquer efeito (constrangedor ou não), mas a associação destes dois grupos soa contraditória e oportunista, sob ambos pontos de vista.
A grande surpresa da noite veio com o Offspring. Que a banda de hardcore melódico californiana ganharia facilmente o público não era propriamente uma novidade - sua coleção de sucessos garantiria pelo menos meia hora de felicidade até para os que não foram assistir ao grupo. A aceitação do público foi instantânea mesmo com as músicas menos conhecidas, deixando o vocalista Dexter Holland livre para exercer seu carisma e puxar consagrações coletivas ao som de seus hits "Come Out and Play", Why Don't You Get a Job?", "Americana", "Pretty Fly (For a White Guy)", "The Kids Aren't Alright" e "Self Esteem".
A essa altura o calor californiano já tomava conta da plateia, que estava na medida para o Red Hot Chili Peppers fazer o que quisessem. Optaram por um show curto e conciso, com foco maior em sua fase mais recente e com pouquíssimas músicas de suas duas primeiras décadas de atividade. Mas como a faixa etária do público era bem mais nova que as dos próprios integrantes da banda, todos se entregaram aos refrões de hits modernos da banda como “Can’t Stop”, “By the Way”, “The Zephyr Song” e “Californication”, que funcionam como uma espécie de equivalente norte-americano dos hits ensolarados de Lulu Santos.
O peso da apresentação ficava principalmente por conta da clássica cozinha da banda: o pulso preciso de Chad Smith e o virtuosismo insano do baixista Flea levam o Red Hot - e o público - para onde eles quiserem. À frente da banda, cada dia mais comportado e solene, o vocalista Anthony Kiedis domina a multidão como um deus mitológico imortal, um highlander angeleno que parece ficar mais novo a cada ano que passa. O guitarrista Josh Klinghoffer bem que tentou fazer jus à ausência do integrante original John Frusciante, mas esta era sentida a cada solo emulado pelo novato - que não fez feio, mas não tinha brilho.
O saldo geral no entanto foi positivo e o público deixou o festival satisfeito após mais uma noite do festival que deu certo. As próximas etapas do evento foram anunciadas no próprio domingo e o festival terá uma edição em Lisboa no ano que vem (pela oitava vez em Portugal) e outra em 2019, novamente no Parque Olímpico, onde aconteceu pela primeira vez este ano.
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