Topo

"Charlie Brown Jr. não tem como existir sem Chorão", dizem fãs

A estudante Mayara Rangel e o namorado Ruan Indrigo homenageiam Chorão em frente ao apartamento do cantor no bairro de Pinheiros, em São Paulo - Mariana Pasini/UOL
A estudante Mayara Rangel e o namorado Ruan Indrigo homenageiam Chorão em frente ao apartamento do cantor no bairro de Pinheiros, em São Paulo Imagem: Mariana Pasini/UOL

Mariana Pasini

Do UOL, em São Paulo

06/03/2013 14h06

Após a notícia da morte do cantor Chorão nesta quarta-feira (6), fãs da banda foram para a frente do apartamento onde o cantor foi encontrado morto, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, para prestar homenagens ao vocalista do grupo santista.

A estudante curitibana Mayara Rangel, de 18 anos, que está de férias em São Paulo, foi para o local depois de saber da notícia pelo Twitter.

Segurando três rosas, que pretendia entregar para o baixista Champignon, a jovem falou sobre o futuro do grupo.

"O Charlie Brown Jr. não tem como existir sem o Chorão. Ninguém vai achar a voz e a personalidade igual a dele. Nem os fãs vão deixar isso acontecer", disse.

André Santana, de 14 anos, concordou. "Se eles [os integrantes do Charlie Brown Jr.] tentarem continuar sem o Chorão, a banda não vai para frente. Chorão só tem um", afirmou.

Os admiradores de Chorão também comentaram a possibilidade do cantor ter morrido de overdose. "Nada muda na admiração que a gente sentia por ele. Existem muitos outros ídolos que morreram por causa de drogas", disse Mayara.

"O Chorão foi uma pessoa que teve problemas com drogas, mas ele sempre cantou o contrário. Ele dizia: 'eu fui para esse caminho, mas não vá também'. Para mim é a mensagem que fica", disse uma fã que não quis se identificar.

A admiradora relatou que conseguiu dar um abraço no baixista Champignon quando ele compareceu ao local, e achou que estava muito abalado.

Para outros fãs, a notícia da morte foi mais surpreendente do que o meio pelo qual ocorreu. "Ele já tinha essa imagem mesmo, de rebeldia, de transgressão. Não era de se esperar, mas surpreende pela morte, a forma não", comentou o analista de mídias sociais Felipe Moreno, de 19 anos.

Alguns admiradores do cantor colocaram flores e cartões em canteiros do prédio. A estudante Tatiana Scoleso, de 20 anos, foi uma delas. "Eu admirava a humildade dele. Como fã, pensar que ele não era feliz me entristece muito", disse.

Ela concorda que, se provada, a overdose não mudaria sua admiração. "Não é tão horrível quanto as pessoas dizem. Cada um exterioriza a dor como consegue."

  • Mariana Pasini/UOL

    Flores colocadas no canteiro do prédio onde Chorão morava. Na mensagem, lê-se: "Um dia eu espero te encontrar numa bem melhor/Cada um tem seu caminho eu sei que foi até melhor/Irmãos do mesmo Cristo, quero e não desisto", trecho da música "Lugar ao Sol"

Para Lucas Bonzatto, de 22 anos, um show do Charlie Brown sem o vocalista seria "um culto ao Chorão". Já para Bruna Feres, de 17 anos, as lições do artista falam mais que seus erros. "Ele pode ter sido drogado, o que for, mas nunca foi hipócrita. Ele não buscou a perfeição. Ele era um artista de verdade, quando o que a gente tem hoje em dia são celebridades. Era o pesadelo do sistema", disse.

Para Tayná Perpétua, Chorão foi um revolucionário do rock. "Meus filhos vão ouvir Charlie Brown", promete.

Houve também quem convocou membros da família para prestar sua homenagem ao músico. A estudante Graziele Cristina Ferreira compareceu à sede da MTV Brasil, em São Paulo, com o irmão Brian, de 8 meses, pois não havia outra pessoa para cuidar da criança. A emissora convocou os fãs a comparecerem à sua sede para homenagear Chorão.

"Já perdi tanta oportunidade de vê-lo", lamentou-se. Graziele gosta de Charlie Brown desde pequena e acredita que o cantor estava num momento difícil. A estudante garantiu que a mãe deu consentimento para que o irmão fosse com ela à sede da emissora e que o pequeno fica "hipnotizado" quando ela coloca Charlie Brown para tocar.

  • Mariana Pasini/UOL

    Graziele Cristina Ferreira compareceu à sede da MTV Brasil, em São Paulo, com o irmão Brian, de 8 meses, para homenagear Chorão

Também na sede da MTV, as estudantes Aimee Luna (18), Thayná Oliveira (17) e as irmãs Fernanda e Heloísa Reis (16) comentaram ter achado Chorão "sentido" na última edição do São Paulo Mix Festival, em julho de 2012. "Parecia que ele estava se despedindo", disse Fernanda.

Morte
Chorão foi encontrado morto na madrugada desta quarta (6) em seu apartamento, que fica no oitavo andar de um prédio no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

As circunstâncias da morte estão sob investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Segundo o delegado Itagiba Franco, da Polícia Divisionária do Departamento de Homicídios, o motorista e o segurança do músico chamaram o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) por volta das 4h30 desta quarta.

A equipe de socorro encontrou o corpo do músico de bruços no chão da cozinha, com as mãos machucadas e já sem vida, sozinho em casa. O apartamento estava revirado, sujo e havia bastante vestígio de sangue.

Bebidas e pó branco também foram encontrados no local, mas o delegado não confirmou se era droga.

Em imagens feitas durante a perícia da Polícia no apartamento de Chorão, às quais o UOL teve acesso, o corpo do músico estava cercado por lascas que aparentam ser parte do enchimento de um saco de pancadas de boxe.

A lateral do abdome do corpo apresentava hematomas, e metade do rosto estava deteriorada e coberta por sangue. O dedo mínimo da mão direita também aparentava estar quebrado. No balcão da cozinha, próximo ao corpo, havia uma pequena quantidade de pó branco em cima de um catálogo de filme pornô, ao lado de um canudo feito com uma folha de cheque.

O exame toxicológico, que vai apontar evidências de cocaína ou outras substâncias no corpo de Chorão, será divulgado em duas semanas. Itagiba revelou ainda que foram encontrados, na casa, frascos do ansiolítico Lexotan e uma pasta de dentes usada para adormecer a gengiva --Chorão costumava morder a boca quando estava ansioso.

De acordo com Itagiba, Chorão estava morto desde, pelo menos, o meio-dia de terça-feira. O delegado contou que, na última semana, Chorão se hospedou em quatro hotéis diferentes da capital paulista. Na última hospedagem, ele se desentendeu com funcionários do local.

O delegado afirmou ainda que Chorão acreditava que estava sendo perseguido. "Ele chegava em casa quebrando tudo, por isso a bagunça [no apartamento]”.

Para o delegado, a hipótese de suicídio deve ser descartada. "Chorão tinha planos, não tinha esse perfil", contou o delegado. Ele acredita que o caso foi uma fatalidade e relacionar com overdose de drogas, neste momento, também seria "leviano".

Velório e enterro

Após passagem pelo IML, o corpo foi levado às 16h57 em direção à Arena Santos, onde será velado. A previsão é de que o velório seja aberto ao público no Ginásio Arena Santos a partir das 20h. Antes disso, apenas familiares e amigos terão acesso ao local, que tem capacidade para 5 mil pessoas, segundo informações da Prefeitura de Santos. 

De acordo com informações da empresária do grupo Charlie Brown Jr., Samantha Jesus, o sepultamento vai acontecer nesta quinta, às 17h, no Cemitério Memorial, em Santos. 

O corpo do cantor Chorão será vestido para o velório com um calça bege e camisa preta com símbolo da banda Charlie Brown Jr., da qual era vocalista. Quem escolheu a roupa para a celebração foi o irmão do cantor, Ricardo Abrão.

O desejo do cantor de ter o corpo cremado só poderá ser realizado após liberação pela polícia. A mãe do cantor, que sofreu um AVC recentemente, ainda não sabe da morte porque não encontraram maneira de informá-la.

Biografia

Chorão formou a banda Charlie Brown Jr. na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, na década de 1990. Ele era o único integrante que permaneceu durante todas as fases do grupo, lançando nove discos de estúdio, dois álbuns ao vivo e duas coletâneas. O grupo vendeu mais de 5 milhões de discos e, em 2009, ganhou um Grammy Latino com o álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".

O último registro da banda é o disco ao vivo "Música Popular Caiçara", que saiu no ano passado e marcou a volta dos integrantes Marcão e Champignon à banda, que haviam deixado o grupo em 2005. A banda estava de férias e o retorno seria durante um show no próximo dia 22 em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Um show no Credicard Hall, no dia 6 abril, em São Paulo também já estava marcado. Em nota, a produtora de SP disse que divulgará em breve informações sobre o reembolso.

A vida pública de Chorão foi marcada por uma série de desentendimentos entre os integrantes da banda e entre outros músicos, como a briga com Marcelo Camelo, integrante do Los Hermanos, em 2007. Chorão agrediu o cantor na sala de desembarque do Aeroporto de Fortaleza e foi detido pela Polícia Federal.

Além de músicas, Chorão também escreveu roteiros, como do filme "O Magnata" (2007), dirigido por Johnny Araújo, e do longa "O Cobrador", que ainda está em produção. Ele também era dono do Chorão Skate Park, em Santos, uma pista de skate indoor.

Repercussão

Ao saber da morte de Chorão, amigos e colegas do universo musical lembraram de seus últimos contatos com ele, sempre destacando sua personalidade explosiva e obstinada. Champignon, baixista da banda Charlie Brown Jr., disse que, apesar das desavenças, ele e Chorão eram amigos. "A gente tinha uma relação profissional. Apesar das muitas brigas, éramos amigos há mais de 20 anos", falou.

"Chorão era um cara diferenciado. Era jovem por dentro, tinha essa rebeldia que o cara novo gosta", destacou o produtor Rick Bonadio, que lançou o álbum de estreia do Charlie Brown Jr. em 1997 e tinha voltado a falar com o músico recentemente para mostrar novas faixas.

O jornalista José Julio Espírito Santo, que trabalhava na gravadora Virgin na época do primeiro disco, lembrou que, apesar de ser "uma pessoa muito amável em certos momentos", o músico parecia sofrer de "um transtorno bipolar sério, e que talvez nunca tenha tratado". "Ele tinha uma relação de amor e ódio com Rick Bonadio e o resto da Virgin. Eu, por algum motivo, era excluído disso e ele sempre se fechava na minha sala para pedir conselhos ou só bater papo e ouvir uns discos."

Johnny Araújo, que dirigiu "O Magnata" e diversos clipes da banda, resumiu: "Ele tinha uma atitude rock'n'roll. Era polêmico por ser verdadeiro, amava música e sabia o que queria. Era preciso ter sensibilidade para entender o jeito dele".

Uma das últimas pessoas a ter contato com Chorão, o radialista Tatola, da UOL 89 FM, recebeu uma visita surpresa do cantor no dia 28 de fevereiro, nos estúdios da rádio paulistana. Durante o programa "Quem Não Faz, Toma", o cantor levou uma música inédita, intitulada "Meu Novo Mundo".

O cantor permaneceu por cerca de duas horas na emissora, junto de seu filho, Alexandre, de 23 anos, fruto do relacionamento com Thais Lima. Fora do ar, chegou a afirmar que estava muito abalado por causa da separação da última mulher, Graziela Gonçalves, e que estava retomando o apartamento em São Paulo. "O apartamento estava bagunçado porque ele estava reformando e vivia fazendo festas. Não tinha nada de briga. Ele estava triste e se enfiou onde não devia se enfiar."

Pelas redes sociais, diversas personalidades lamentaram a morte de Chorão, entre elas o apresentador Luciano Huck, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, a apresentadora Ana Hickmann e os ídolos da torcida do Santos Neymar e Robinho.