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Amigo diz que teve tratamento médico de R$ 50 mil pago por Chorão

Amigo de Chorão há 20 anos, Tarso Wiedark, recebeu ajuda do cantor para pagar um tratamento médico - Reprodução/Facebook
Amigo de Chorão há 20 anos, Tarso Wiedark, recebeu ajuda do cantor para pagar um tratamento médico Imagem: Reprodução/Facebook

Eugênio Martins

Do UOL, em Santos

06/03/2013 20h01

Amigo de Chorão desde o início do Charlie Brown Jr. em 1992, o músico santistaTarso Wiedak, vocalista da banda Carnal Desire, afirma que recebeu ajuda financeira do cantor para se tratar de um problema de saúde.

“O Chorão salvou a minha vida”, disse Tarso em entrevista ao UOL depois de saber da morte do vocalista do Charlie Brown Jr. divulgada nesta quarta-feira (6).

Há três anos, Carnal foi internado em um hospital público de Santos com um ferimento no pé agravado pela diabetes. “Depois de 13 dias em uma situação precária, o dedo começou a necrosar, fiquei entre a vida e a morte”, contou.

Ao ficar sabendo da situação do amigo, Chorão pagou para que Carnal fosse internado em uma clínica particular, cuja diária custava, segundo o cantor, R$ 500. “Fui operado e acabei tendo um dedo do pé amputado. Perto do que estava meu quadro de saúde, eu saí no lucro”.

No total, Carnal ficou 30 dias no hospital privado, o que segundo ele, custou para Chorão R$ 50 mil. “Ele me salvou e sumiu. Nunca mais tive contato com ele, mas sempre que dava deixava recados na portaria do prédio dele”, afirmou.

O músico lamentou muito a morte de Chorão. “Nunca vou esquecer esse cara. Todos os meus shows serão em homenagem a ele, meu amigo, meu Salvador”, escreveu Tarso em mensagem postada no Facebook.

Morte
Chorão -- batizado de Alexandre Magno Abrão -- foi encontrado morto na madrugada desta quarta (6) em seu apartamento, que fica no oitavo andar de um prédio no bairro de Pinheiros, em São Paulo. As circunstâncias da morte estão sob investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Segundo o delegado Itagiba Franco, da Polícia Divisionária do Departamento de Homicídios, o motorista e o segurança do músico chamaram o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) por volta das 4h30 desta quarta. A equipe de socorro encontrou o corpo do músico de bruços no chão da cozinha, com as mãos machucadas e já sem vida, sozinho em casa.

O apartamento estava revirado, sujo e havia bastante vestígio de sangue. Bebidas e pó branco também foram encontrados no local, mas o delegado não confirmou se era droga. Em imagens feitas durante a perícia da Polícia no apartamento de Chorão, às quais o UOL teve acesso, o corpo do músico estava cercado por lascas que aparentam ser parte do enchimento de um saco de pancadas de boxe. A lateral do abdome do corpo apresentava hematomas, e metade do rosto estava deteriorada e coberta por sangue. O dedo mínimo da mão direita também aparentava estar quebrado. No balcão da cozinha, próximo ao corpo, havia uma pequena quantidade de pó branco em cima de um catálogo de filme pornô, ao lado de um canudo feito com uma folha de cheque.

O exame toxicológico, que vai apontar evidências de cocaína ou outras substâncias no corpo de Chorão, será divulgado em duas semanas. Itagiba revelou ainda que foram encontrados, na casa, frascos do ansiolítico Lexotan e uma pasta de dentes usada para adormecer a gengiva --Chorão costumava morder a boca quando estava ansioso. De acordo com Itagiba, Chorão estava morto desde, pelo menos, o meio-dia de terça-feira.

O delegado contou que, na última semana, Chorão se hospedou em quatro hotéis diferentes da capital paulista. Na última hospedagem, ele se desentendeu com funcionários do local.

Itagiba afirmou ainda que Chorão acreditava que estava sendo perseguido. "Ele chegava em casa quebrando tudo, por isso a bagunça [no apartamento]". Para o delegado, a hipótese de suicídio deve ser descartada. "Chorão tinha planos, não tinha esse perfil", contou o delegado. Ele acredita que o caso foi uma fatalidade e relacionar com overdose de drogas, neste momento, também seria "leviano".

Velório e enterro
Sob aplausos calorosos dos fãs, o corpo do cantor Chorão chegou na Arena Santos em uma limusine branca, às 21h52 desta quarta, para ser velado. O corpo saiu do IML de São Paulo às 16h57. Por causa de um comboio na rodovia dos Imigrantes provocado por uma forte neblina e chuva, a chegada do corpo do vocalista do Charlie Brown Jr., que estava marcada para às 20h, se atrasou.

Na Arena Santos os fãs faziam fila para se despedir desde a tarde desta quarta. O espaço tem capacidade para 5 mil pessoas, segundo informações da Prefeitura de Santos, e a cerimônia será aberta ao público até as 15h de quinta.

De acordo com informações da empresária do grupo Charlie Brown Jr., Samantha Jesus, o sepultamento vai acontecer nesta quinta, às 17h, no Cemitério Memorial, em Santos. 

O corpo do cantor Chorão foi vestido para o velório com um calça bege e camisa preta com símbolo da banda Charlie Brown Jr., da qual era vocalista. Quem escolheu a roupa para a celebração foi o irmão do cantor, Ricardo Abrão.

O desejo do cantor de ter o corpo cremado só poderá ser realizado após liberação pela polícia. A mãe do cantor, que sofreu um AVC recentemente, ainda não sabe da morte porque não encontraram maneira de informá-la.

Biografia

Chorão formou a banda Charlie Brown Jr. na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, na década de 1990. Ele era o único integrante que permaneceu durante todas as fases do grupo, lançando nove discos de estúdio, dois álbuns ao vivo e duas coletâneas. O grupo vendeu mais de 5 milhões de discos e, em 2009, ganhou um Grammy Latino com o álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".

O último registro da banda é o disco ao vivo "Música Popular Caiçara", que saiu no ano passado e marcou a volta dos integrantes Marcão e Champignon à banda, que haviam deixado o grupo em 2005. A banda estava de férias e o retorno seria durante um show no próximo dia 22 em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Um show no Credicard Hall, no dia 6 abril, em São Paulo também já estava marcado. Em nota, a produtora de SP disse que divulgará em breve informações sobre o reembolso.

A vida pública de Chorão foi marcada por uma série de desentendimentos entre os integrantes da banda e entre outros músicos, como a briga com Marcelo Camelo, integrante do Los Hermanos, em 2007. Chorão agrediu o cantor na sala de desembarque do Aeroporto de Fortaleza e foi detido pela Polícia Federal.

Além de músicas, Chorão também escreveu roteiros, como do filme "O Magnata" (2007), dirigido por Johnny Araújo, e do longa "O Cobrador", que ainda está em produção. Ele também era dono do Chorão Skate Park, em Santos, uma pista de skate indoor.

Casado há 15 anos com a estilista Graziela Gonçalves, Chorão havia se separado dela em meados de novembro de 2012, mas o casal ainda não tinham oficializado o divórcio.

Repercussão

Ao saber da morte de Chorão, amigos e colegas do universo musical lembraram de seus últimos contatos com ele, sempre destacando sua personalidade explosiva e obstinada. Champignon, baixista da banda Charlie Brown Jr., disse que, apesar das desavenças, ele e Chorão eram amigos. "A gente tinha uma relação profissional. Apesar das muitas brigas, éramos amigos há mais de 20 anos", falou.

"Chorão era um cara diferenciado. Era jovem por dentro, tinha essa rebeldia que o cara novo gosta", destacou o produtor Rick Bonadio, que lançou o álbum de estreia do Charlie Brown Jr. em 1997 e tinha voltado a falar com o músico recentemente para mostrar novas faixas.

O jornalista José Julio Espírito Santo, que trabalhava na gravadora Virgin na época do primeiro disco, lembrou que, apesar de ser "uma pessoa muito amável em certos momentos", o músico parecia sofrer de "um transtorno bipolar sério, e que talvez nunca tenha tratado". "Ele tinha uma relação de amor e ódio com Rick Bonadio e o resto da Virgin. Eu, por algum motivo, era excluído disso e ele sempre se fechava na minha sala para pedir conselhos ou só bater papo e ouvir uns discos."

Johnny Araújo, que dirigiu "O Magnata" e diversos clipes da banda, resumiu: "Ele tinha uma atitude rock'n'roll. Era polêmico por ser verdadeiro, amava música e sabia o que queria. Era preciso ter sensibilidade para entender o jeito dele".

Uma das últimas pessoas a ter contato com Chorão, o radialista Tatola, da UOL 89 FM, recebeu uma visita surpresa do cantor no dia 28 de fevereiro, nos estúdios da rádio paulistana. Durante o programa "Quem Não Faz, Toma", o cantor levou uma música inédita, intitulada "Meu Novo Mundo".

O cantor permaneceu por cerca de duas horas na emissora, junto de seu filho, Alexandre, de 23 anos, fruto do relacionamento com Thais Lima. Fora do ar, chegou a afirmar que estava muito abalado por causa da separação da última mulher, Graziela Gonçalves, e que estava retomando o apartamento em São Paulo. "O apartamento estava bagunçado porque ele estava reformando e vivia fazendo festas. Não tinha nada de briga. Ele estava triste e se enfiou onde não devia se enfiar."

Pelas redes sociais, diversas personalidades lamentaram a morte de Chorão, entre elas o apresentador Luciano Huck, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, a apresentadora Ana Hickmann e os ídolos da torcida do Santos Neymar e Robinho.