Quando o timbre de voz de um cantor determina o resultado de todo o show
O quanto o timbre de um vocalista é responsável pela identificação de um artista com seu público? Ao contrário da técnica e do feeling ao tocar um instrumento musical, o trabalho com a voz é crucial para estabelecer um vínculo direto com a plateia, principalmente quando se fala de música pop. E o Rock in Rio deste ano viu uma série de exemplos --bons e ruins-- da forma como uma única voz pode determinar o andamento de uma apresentação inteira.
Entre os exemplos positivos, ninguém superou Roland Orzabal dos Tears for Fears ou CeeLo Green. Ocupando lugares diferentes na escalação do festival, os dois contaram com anos de carreira e timbres seguros e cristalinos para conduzir shows que se transformaram em pura celebração --o primeiro da própria banda inglesa e sua coletânea de sucessos de FM; o segundo da música negra para dançar.
Outros não se comprometeram justamente por atuarem em um espectro musical mais curto e, por isso mesmo, menos arriscado. Justin Timberlake, por exemplo, equilibra suas piruetas vocais, deixadas principalmente para as baladas, com suspiros e o canto falado nascido no rap, que temperam seus hits de pista. Alice Cooper canta como se estivesse passando um sermão em alguém desde quando tinha 20 anos --e 50 anos depois, sua pregação macabra torna-se ainda mais eficaz. O mesmo pode ser dito sobre o canto falado de Russo Passapusso, o MC endiabrado do BaianaSystem.
Foi o que fez, inclusive, Roger Daltrey, ao preferir cantar a maioria das músicas em tons abaixo das versões originais, de forma que não pudesse se constranger quando as cantava em público. Mesmo que não tenha a voz que consagrou os hinos do Who, seu timbre segue sendo o seu, mesmo que mais comedido. Uma fórmula também utilizada por Steven Tyler, do Aerosmith, que, embora ainda tenha mais voz do que Daltrey atualmente, garante algumas décadas de sobrevida à história da banda.
Tal adaptação, no entanto, não funcionou na parceria da Nação Zumbi com Ney Matogrosso, que foi em busca de um registro entre o grave de Jorge Du Peixe e o soprano de Ney e acabou travando a fluidez da colaboração.
Mas no quesito voz destruída ninguém consegue superar Axl Rose. Caso tivesse optado em cantar uma oitava abaixo como fez em algumas canções, o vocalista do Guns N' Roses talvez pudesse ter passado uma sensação diferente da de morte horrível que causou em sua apresentação no sábado. Até mesmo Jon Bon Jovi, que também foi alvo de críticas devido ao estado de sua voz, saiu-se melhor do que o timbre aos pedaços de Axl, que foi apenas vergonhoso.
Mas os fãs, no fim, não se importam. Mais vale a presença de um vocalista que realmente cantou as músicas originais do que sua desenvoltura atual. O que entra em jogo, neste caso, não é apenas a técnica ou a estética, mas o valor histórico e emocional de estar dividindo minutos e oxigênio com o mesmo artista cujo trabalho lhe levou para aquele show. Não importa se ele canta mal.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.