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Com covers, Kiara Rocks evita vexame e traz ex-Iron Maiden ao palco

Mário Barra

Do UOL, no Rio

22/09/2013 18h34

Quando a escalação do Palco Mundo para o último dia do Rock in Rio 2013 foi divulgada, o nome da banda Kiara Rocks não era nem de longe ventilado. Pouco conhecido, o grupo brasileiro que já participou até de reality show no SBT era forte candidato ao efeito "Carlinhos Brown" em dias de metal no festival -- um artista brasileiro muito distinto das bandas principais do dia, que não agrada o público exigente e recebe até garrafa plástica na cabeça como troco. Mas o Kiara tinha um truque guardado na manga ao entrar no palco neste domingo (22): investir em versões de clássicos do rock.

Abrindo o show com o clássico "Ace of Spades", do Motörhead, o grupo conseguiu captar mais a atenção do público quando não tocava suas música próprias, todas compostas pelo vocalista e frontman Cadu Pelegrini, que subiu ao palco com lápis no olho, chapéu e uma bandana pendurada na calça.

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O desafio ao subir ao palco também existia por conta da relevância de outros grupos escalados no último dia do festival para representar o metal: artistas como HelloweenDestruction, Krisiun, Viper e Sepultura, só para citar as atrações do Palco Sunset.

O visual "rocker", emprestado do que de melhor a década de 1980 proporcionou ao glam e hard rock com bandas como Poison e até mesmo o Guns N' Roses, marca a postura da banda no palco. Se dirigindo ao público muitas vezes em inglês ("are you ready for Slayer?", ou seja, "vocês estão prontos para o Slayer"), Pelegrini e a banda usam muito na fonte de inspiração que determinou o sucesso da banda de Axl Rose.

A banda existe desde 2008, época em que participaram do programa "Astros", show de talentos do SBT. Eles chegaram à final, mas perderam na última apresentação. No ano seguinte fizeram uma nova tentativa, mas repetiram o fracasso. O Kiara Rocks tem três discos lançados, sendo um produzido por Matt Sorum (ex-baterista do Guns N' Roses) e outro co-assinado por Alexandre Russo (produtor do Sepultura).

Convidados
Mas o momento mais curioso da apresentação aconteceu quando Pelegrini disse ao público que tinha convidados para subir no palco. Primeiro ele convocou o guitarrista Marcão, ex-Charlie Brown Jr, um músico que ainda lida com a perda recente de Chorão e Champignon, principais nomes da banda santista -- e que nunca pisaram em um palco do Rock in Rio.

Fã do Slayer não faz a barba há mais de três anos


O mineiro Elias Ferreira chamava a atenção ao lado da namorada, Carina Guido, na fila do último dia de Rock in Rio, dedicado ao metal de Iron Maiden, Slayer e Sepultura. Ele exibe uma barba comprida, presa com elásticos, que cultiva há mais de três anos. "Viemos para os shows do Slayer, que sou fã há mais de 10 anos, e Iron Maiden. A barba eu não faço há mais de três anos e meio, é uma tradição da Black Label Society", explicou.

Mas foi o segundo nome que realmente conquistou o público. Com dificuldade para caminhar, o cantor Paul Di'Anno, vocalista que foi substituído no Iron Maiden por Bruce Dickinson, entrou no palco lentamente, mas sendo ovacionado pelos fãs, tanto na frente do palco como os que estavam sentados na grama sintética mais próxima.

Reforçados pelos dois músicos no palco, o Kiara tocou três versões de hits do rock. O primeiro deles foi "Highway to Hell", do AC/DC, que já foi o suficiente para obter o maior coro do show inteiro. Aludindo rapidamente ao seu passado como vocalista da atração principal da noite, Di'Anno disse que antes de tocar heavy metal, ele pertencia ao punk rock. Foi a deixa para tocar "Blitzkrieg Bop", a música do Ramones mais segura para se apresentar e ganhar o público brasileiro de qualquer festival de rock.

Mas antes de deixar o palco -- e encerrar o ápice do show -- Di Anno deu um gostinho aos fãs mais antigos do Iron Maiden que já acampavam no local: "Wrathchild", faixa do segundo disco da banda inglesa "Killers", gravado originalmente em 1981, ainda com Di'Anno na formação.

Empresariado por Monika Cavalera, nome que está por trás também dos convidados que subiram ao palco, o Kiara Rocks conseguiu evitar um vexame e até agitar um pouco o público com faixas próprias como "In Coma", "Nada a Perder" e "Últimos Dias", que encerrou o show. Para arrematar a plateia de vez, Pelegrini usou o mesmo expediente empregado pelos outros vocalistas brasileiros que abriram o Palco Mundo: um discurso contra os políticos brasileiros. A depender do miolo do grupo de pessoas que acompanhavam a apresentação, a produção deu certo e houve até gritos de "Kiara, Kiara" no fim.

Neste domingo, sétimo e último dia do festival, ainda vão subir ao Palco Mundo as bandas Iron Maiden, Avenged Sevenfold e SlayerSepultura e Zé Ramalho fecham a programação de parcerias do Sunset, por onde passaram Helloween com Kai HansenDestruction com Krisiun, e Andre Matos com os ex-colegas de Viper.

Sexto dia

O penúltimo dia de Rock in Rio foi encerrado com uma apresentação animadíssima - e de muito fôlego - do veterano Bruce Springsteen, que completa 64 anos nesta segunda (23). Apesar de repetir algumas estratégias já usadas em São Paulo, como abrir o show com música de Raul Seixas e cair literalmente nos braços da galera ainda nos primeiros minutos, Springsteen inovou ao executar, de ponta a ponta, todas as músicas do álbum "Born in the U.S.A", de 1984, um dos mais emblemáticos da carreira. A apresentação de quase três horas de duração teve ainda um medley de "Twist and Shout" e "La Bamba" na reta final, que não foi mostrado em SP.

Passaram também pelo Palco Mundo neste sábado dois exímios guitarristas da nova geração: John Mayer e Phillip Phillips, este último revelado no reality show musical "American Idol". Conhecido tanto pelas namoradas famosas quanto pelo talento no instrumento, Mayer fez um show digno de headliner capaz de abafar até os gritos mais ensurdecedores das fãs nas primeiras filas.

Como aconteceu em todos os dias do festival até agora, a abertura dos shows do Palco Mundo ficou por conta de uma banda da casa, desta vez o Skank. No Palco Sunset, conhecido pelos encontros, se apresentaram o cantor italiano Jovanotti com a carioquíssima Orquestra Imperial; os ex-Novos Baianos Moraes Moreira e Pepeu Gomes com a cantora Roberta Sá; e Ivo Meirelles, que recebeu Fernanda Abreu e Elba Ramalho para um show percurssivo, que também teve tom de protesto e abriu com integrantes de bateria de samba tocando o Hino Nacional com rosto coberto como black blocs e as famosas máscaras de Guy Fawkes popularizadas pelo grupo Anonymous.

 

O festival

Com Iron Maiden e Slayer entre as atrações principais, a edição 2013 do Rock in Rio termina neste domingo após sete dias de shows. A primeira semana teve shows de Beyoncé, Muse e Justin Timberlake fechando as três noites. Mais roqueira, a segunda metade do festival começou na última quinta-feira, com shows do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, Alice in Chains e os suecos do Ghost BC, que dividiram opiniões com sua apresentação repleta de provocações à igreja católica

 

Na sexta-feira, ficou com o roqueiro galã Bon Jovi a missão de encerrar a noite. O show de mais de duas horas teve ritmo arrastado e sofreu com dois desfalques: o baterista Tico Torres (substituído de última hora por causa de uma operação na vesícula) e o guitarrista Richie Sambora (demitido da banda recentemente por desavenças com Jon). Muitos fãs, no entanto, não se importaram. Uma delas subiu ao palco e até ganhou um selinho do cantor. 

A sexta-feira também teve shows de Nickelback e Matchbox Twenty. No Sunset, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite