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Em teste de resistência de 2h40min, Springsteen faz melhor show até agora

Tiago Dias

Do UOL, no Rio

22/09/2013 00h15

Bruce Springsteen finalmente aterrissou no Rock in Rio na madrugada deste domingo (22) para encerrar o 6° e penúltimo dia do festival. O "chefe" mostrou, com propriedade, como se faz o tal do rock de arena -- aquele que Muse ensaiou fazer para um público alternativo, o Metallica para os headbangers e que Bon Jovi sonhou para a nova turnê na sexta-feira (20).

A apresentação de 2 horas e 40 minutos parece não ter feito cócegas no cantor, que já chegou a tocar por quase quatro horas no Chile. Aqui, ele sempre pedia mais. Assim como todas as outras da turnê "Wrecking Ball", a apresentação serviu como um divertido teste de resistência para Bruce, que completa 64 anos na próxima segunda-feira (23). 

Qual foi o melhor show do sexto dia de Rock in Rio 2013?

Resultado parcial

Total de 5934 votos
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O cantor talvez não seja o mais conhecido dos headliners do festival, não tenha tocado para a maior plateia do evento e não possua representatividade dentro do repertório radiofônico do público, mas fez, de longe, a melhor apresentação do Rock in Rio até agora.

O americano de New Jersey, conhecido como “Boss”, ganhador de dezenas de Grammys, ensinou que o segredo vai além do lastro no cancioneiro americano, inspirado, em grande parte, pelos excluídos e os menos abastados. Ao lado da ótima e numerosa E Street Band (que conta com o eterno Soprano Steven Van Zandt na guitarra), Bruce não liga para set list e faz de seu show uma celebração com amigos – bem além daqueles que estão palco. Logo nas primeiras músicas do show, como que de improviso, anunciou: "Vamos tocar o álbum 'Born in the USA' inteiro".

Foram quase três horas de suor escorrendo na guitarra, entre elas uma Fender Telecaster detonada, e de um contato constante com o público. Não apenas na hora de pedir para que os braços fossem erguidos, nas dancinhas e reboladas, como em “Shackled and Drawn”, ou na escolha de “Sociedade Alternativa”, de Raul Seixas, para abrir o show. O cantor se jogava para a plateia.

Já na terceira música, “Spirit in the Night”, Bruce subiu nas grades, apertou a mão dos fãs e se deixou a agarrar. Voltou ao corredor e repetiu os gestos mais algumas vezes, sempre tentando trazer alguém da banda junto. Em uma dessas passagens, voltou com o típico chapéu Panamá na cabeça. Em outro, deu o microfone para o italiano Ludovico, de 10 anos, que veio ao Brasil para assistir ao show, cantar os versos “Waiting On a Sunny Day”. No clássico “Born to Run”, esfregou a guitarra no público para que seus fãs pudessem "tocar" a parte final da canção.

A interação só não foi maior porque a estrutura do Palco Mundo assim não permitiu. No Chile e em São Paulo, Bruce deu um mosh (arremessou-se sobre o público para ser carregado) e se deixou levar pela onda de mãos. A novidade do show carioca foi a execução na íntegra do clássico álbum "Born in the U.S.A.", de 1984. No show na capital paulista, Bruce já havia tocado 6 das 12 faixas do disco, duas delas pedidas por fãs. 

No Rio, se contentou em se molhar, ofegante, como se precisasse recobrar as forças colocando a cara no balde de gelo. Quando o público achava que ele já estava esgotado, Bruce olhava para a plateia e pedia mais, como se todo o espetáculo fosse um teste divertido de resistência. Foi assim até o final, quando tocou “Twist and Shout” e venceu até mesmo os fogos de artifícios, que costumam aparecer apenas quando a última banda sai do palco.

“Nós amamos todos vocês. Obrigado por nos esperaram por tanto tempo. Não vamos deixar isso acontecer de novo”, prometeu no bis, ao cantar “This Hard Land”, acompanhado apenas por violão e gaita.

Em ”Dancing In The Dark”, Bruce escolheu seis fãs para subirem ao palco. Entre beijos e pulos, deu um violão para a mais nova e ensinou a todos como ser um rock star e encerrar a música com estilo, ajoelhado e ovacionado no palco. Acabou ensinando o festival inteiro de como se fazer um legitimo  show de rock.

Sexto dia

O penúltimo dia de Rock in Rio foi encerrado com uma apresentação animadíssima - e de muito fôlego - do veterano Bruce Springsteen, que completa 64 anos nesta segunda (23). Apesar de repetir algumas estratégias já usadas em São Paulo, como abrir o show com música de Raul Seixas e cair literalmente nos braços da galera ainda nos primeiros minutos, Springsteen inovou ao executar, de ponta a ponta, todas as músicas do álbum "Born in the U.S.A", de 1984, um dos mais emblemáticos da carreira. A apresentação de quase três horas de duração teve ainda um medley de "Twist and Shout" e "La Bamba" na reta final, que não foi mostrado em SP.

Passaram também pelo Palco Mundo neste sábado dois exímios guitarristas da nova geração: John Mayer e Phillip Phillips, este último revelado no reality show musical "American Idol". Conhecido tanto pelas namoradas famosas quanto pelo talento no instrumento, Mayer fez um show digno de headliner capaz de abafar até os gritos mais ensurdecedores das fãs nas primeiras filas.

Como aconteceu em todos os dias do festival até agora, a abertura dos shows do Palco Mundo ficou por conta de uma banda da casa, desta vez o Skank. Sem lançar disco de inéditas desde 2008, os mineiros apostaram num repertório de grandes sucessos da carreira, como "Vamos Fugir", "Jackie Tequila" e "Vou Deixar", que contou com Nando Reis no palco. O rapper paulista Emicida também participou do show, que teve seu momento mais politizado no cover de "É Proibido Fumar". "Maconha é proibido, mas mensalão pode fazer de novo, né?", provocou o vocalista Samuel Rosa.

No Palco Sunset, conhecido pelos encontros, se apresentaram o cantor italiano Jovanotti com a carioquíssima Orquestra Imperial; os ex-Novos Baianos Moraes Moreira e Pepeu Gomes com a cantora Roberta Sá; e Ivo Meirelles, que recebeu Fernanda Abreu e Elba Ramalho para um show percurssivo, que também teve tom de protesto e abriu com integrantes de bateria de samba tocando o Hino Nacional com rosto coberto como black blocs e as famosas máscaras de Guy Fawkes popularizadas pelo grupo Anonymous.

O pernambucano Lenine fechou o Sunset em dose dupla: primeiro numa participação especial no show da banda de rock cigano Gogol Bordello e, em seguida, sozinho, apresentando canções de sonoridade mais "cool" como "Chão", "A Rede" e "Hoje eu Quero Sair Só".

O festival

Com Iron Maiden e Slayer entre as atrações principais, a edição 2013 do Rock in Rio termina neste domingo após sete dias de shows. A primeira semana teve shows de Beyoncé, Muse e Justin Timberlake fechando as três noites. Mais roqueira, a segunda metade do festival começou na última quinta-feira, com shows do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, Alice in Chains e os suecos do Ghost BC, que dividiram opiniões com sua apresentação repleta de provocações à igreja católica

Na sexta-feira, ficou com o roqueiro galã Bon Jovi a missão de encerrar a noite. O show de mais de duas horas teve ritmo arrastado e sofreu com dois desfalques: o baterista Tico Torres (substituído de última hora por causa de uma operação na vesícula) e o guitarrista Richie Sambora (demitido da banda recentemente por desavenças com Jon). Muitos fãs, no entanto, não se importaram. Uma delas subiu ao palco e até ganhou um selinho do cantor. 

A sexta-feira também teve shows de Nickelback e Matchbox Twenty. No Sunset, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite