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"Se pudesse, dava um mosh de cadeira de rodas", diz cadeirante roqueira

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio

22/09/2013 21h44

“Muitos sentem que sofrem preconceito, mas não no mundo do rock”, diz Fábio Luiz Silva, 21, que, mesmo com dificuldade para andar e apoiado em uma muleta, fez questão de estar no show do Iron Maiden que fecha a edição 2013 do Rock in Rio.

“O rock é para todas as tribos, independente da idade, se possui deficiência, se é velho ou novo. Todas as tribos se encaixam”, disse ao UOL o mineiro que desembarcou de ônibus nesta madrugada na rodoviária do Rio de Janeiro.

Acompanhado do irmão de 15 anos, Fábio caminha com dificuldade e usa a muleta do lado direito para manter a firmeza, por não ter forças para ficar em pé. Apesar de não poder participar das rodinhas porque teme o empurra-empurra, o resto ele garante ser o mesmo para qualquer roqueiro.

“Fora isso é super tranquilo. Hoje eu fui super bem recebido, a maioria me apóia”, disse. Seu sonho era tentar ficar na frente do palco sentado em cima da grade. Perguntado sobre o que espera do show do Iron Maiden, sua banda preferida de rock, Fábio comentou que os shows do grupo são “excepcionalmente perfeitos”. “Bruce Dickinson é sempre contagiante com o público brasileiro.”

A gaúcha Dioniva Wagner, 39, chegou à Cidade do Rock de cadeira de rodas e garantiu ser a “mesma emoção” assistir a um show de rock em uma cadeira. “Se pudesse dar um mosh de cadeira de rodas, eu daria. Às vezes, dá vontade de pular na roda punk. Eu não tive a vida toda em cadeira de rodas, antes eu fazia”, afirmou.

Há um ano passando por várias cirurgias, Dioniva não teve outra opção a não ser se locomover em uma cadeira de rodas. “Aprendi a ter calma. De onde eu assistir o show, vai ser ótimo. A cadeira não vai ser um empecilho, vou sair bem feliz”, garantiu a gaúcha, que conta ter conhecido o rock aos 15 anos quando ouviu o Metallica.

Já o mineiro Gabriel Lima, 18, quebrou o pé duas semanas antes de seu show favorito, o do Iron Maiden, que será o 'gran finale" do Rock in Rio. O jovem teve que pedir autorização médica para poder ir ao festival.

“Comprei o ingresso antecipado, mas, quando quebrei o pé, achei que não poderia vir. Tive que pedir para o meu ortopedista”, contou Gabriel, que veio acompanhado do tio.

De muletas, o rapaz contou que vai ter de ficar mais comportado nos shows que, neste último dia de rock, são dedicados ao metal.

“Estava com muita ansiedade. Esta é a minha primeira vez no Rock in Rio, mas também é a primeira vez que venho a um show do Iron.”

Neste domingo, sétimo e último dia do festival tem como atações do Palco Mundo Iron Maiden, Avenged Sevenfold, Slayer e Kiara Rocks. Com a missão de abrir o espaço principal, Kiara Rocks investiu em versões de clássicos do rock e a participação de Paul Di Anno, ex-vocalista do Iron Maiden.

Sepultura e Zé Ramalho fecharam a programação de parcerias do Sunset tocando músicas como "A Dança das Borboletas", "Da Lama ao Caos" e "Admirável Gado Novo". Pelo mesmo palco, passaram encontros de diferentes vertentes do metal: Helloween com Kai Hansen, Destruction com Krisiun, e Andre Matos com os ex-colegas de Viper.

 

Sexto dia

O penúltimo dia de Rock in Rio foi encerrado com uma apresentação animadíssima - e de muito fôlego - do veterano Bruce Springsteen, que completa 64 anos nesta segunda (23). Apesar de repetir algumas estratégias já usadas em São Paulo, como abrir o show com música de Raul Seixas e cair literalmente nos braços da galera ainda nos primeiros minutos, Springsteen inovou ao executar, de ponta a ponta, todas as músicas do álbum "Born in the U.S.A", de 1984, um dos mais emblemáticos da carreira. A apresentação de quase três horas de duração teve ainda um medley de "Twist and Shout" e "La Bamba" na reta final, que não foi mostrado em SP.

Passaram também pelo Palco Mundo neste sábado dois exímios guitarristas da nova geração: John Mayer e Phillip Phillips, este último revelado no reality show musical "American Idol". Conhecido tanto pelas namoradas famosas quanto pelo talento no instrumento, Mayer fez um show digno de headliner capaz de abafar até os gritos mais ensurdecedores das fãs nas primeiras filas.

Como aconteceu em todos os dias do festival até agora, a abertura dos shows do Palco Mundo ficou por conta de uma banda da casa, desta vez o Skank. No Palco Sunset, conhecido pelos encontros, se apresentaram o cantor italiano Jovanotti com a carioquíssima Orquestra Imperial; os ex-Novos Baianos Moraes Moreira e Pepeu Gomes com a cantora Roberta Sá; e Ivo Meirelles, que recebeu Fernanda Abreu e Elba Ramalho para um show percussivo, que também teve tom de protesto e abriu com integrantes de bateria de samba tocando o Hino Nacional com rosto coberto como black blocs e as famosas máscaras de Guy Fawkes popularizadas pelo grupo Anonymous.

O festival

Com Iron Maiden e Slayer entre as atrações principais, a edição 2013 do Rock in Rio termina neste domingo após sete dias de shows. A primeira semana teve shows de Beyoncé, Muse e Justin Timberlake fechando as três noites. Mais roqueira, a segunda metade do festival começou na última quinta-feira, com shows do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, Alice in Chains e os suecos do Ghost BC, que dividiram opiniões com sua apresentação repleta de provocações à igreja católica

Na sexta-feira, ficou com o roqueiro galã Bon Jovi a missão de encerrar a noite. O show de mais de duas horas teve ritmo arrastado e sofreu com dois desfalques: o baterista Tico Torres (substituído de última hora por causa de uma operação na vesícula) e o guitarrista Richie Sambora (demitido da banda recentemente por desavenças com Jon). Muitos fãs, no entanto, não se importaram. Uma delas subiu ao palco e até ganhou um selinho do cantor. 

A sexta-feira também teve shows de Nickelback e Matchbox Twenty. No Sunset, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite