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Zé Ramalho ganha prestígio no dia do metal e toca com "Zépultura" no Sunset

Tiago Dias

Do UOL, no Rio

22/09/2013 19h32

Entre os monstros do heavy metal que integram a programação do último dia do Rock in Rio,  um cantor paraibano, que sempre esteve, injustamente, à margem do rol dos medalhões da MPB, ganhou a aprovação, palmas e gritos dos headbangers a espera de Iron Maiden, que encerra o festival neste domingo (22).

Em show conjunto com o SepulturaZé Ramalho foi além: fez a plateia que lotava o Palco Sunset --e que já havia cantado clássicos do HelloweenDestruction e Krisiun-- entoar os versos de “Admirável Gado Novo”, saga do agreste brasileiro, cuja aridez ganhou o peso característico do Sepultura, com bateria ritmada, baixo pulsante e riff em alto e bom som.

Andreas Kisser brincou que a banda, nesta noite, se chamava “Zépultura”. A alcunha ganhou ecos no público que já gritava: “Ah, é Zé Ramalho”. O cantor sorria, agradecendo com a mão para cima, mostrando estar bem a vontade no palco e com o público.

Vestido todo de preto, Zé parecia um profeta que voltou do além (o bardo chegou a ser dado como morto nas redes sociais em junho). Mostrou que está mais do que vivo.  “Vamos mostrar músicas com essa banda poderosa: Sepultura”, disse, nas poucas vezes que falou ao público. Em outra, com a palma da mão aberta sobre a multidão de camisetas pretas, parecia abençoar os servos do metal: "Avôhai", disse, sem tocar este, que é um de seus sucessos mais conhecidos.

"Achei inusitado. No começo achei que eles não iam aceitar. Você sabe como o pessoal do metal é, né? Não costumam aceitar outros sons", comentou a paulista Patrícia Laroca, 38, após a apresentação. "Ficou muito pesado. Acho que o Zé tem um pegada heavy metal".

Embora pareça inusitada, a parceria já existiu e rendeu uma grande versão para “A Dança das Borboletas”, canção do paraibano regravada para a trilha do filme “Lisbela e o Prisioneiro”. A música entrou no show, assim como outra canção mais obscura de sua carreira, "Jardim das Acácias".

"Isso mostra que dá para fazer muita coisa foda com metal", disse Andreas no final do show, depois de apresentar uma canção de seu disco solo, "Em Busca do Ouro", também cantado por Zé.

30 anos de carreira
Praticamente uma banda VIP do evento, Sepultura voltou ao festival após celebrar a parceria com o Tambours Du Bronx na última quinta-feira (19). Dessa vez, a banda celebrou os 30 anos com uma pequena porção de pérolas, como “Dark Wood Error”, do disco “Dante XII”, inspirado em “Inferno” de Dante Alighieri, que abriu a apresentação.

Para comemorar os 30 anos de carreira, a banda quis privilegiar porradas que raramente aparecem em seus shows, como “Dusted”, espécie de lado b do álbum “Roots”, e que provocou as primeiras rodas na plateia lotada do palco secundário. Do disco “Chaos A.D.” veio “The Hunt”, nunca tocada ao vivo. Andreas assumiu os vocais em seguida para mostrar a versão metal de “Da Lama ao Caos”, cover que estará no próximo disco do Sepultura. “Vocês são do c******.”, agradeceu o vocalista Derrick Green, sob os gritos do público.

Neste domingo, sétimo e último dia do festival, sobem ao Palco Mundo Iron Maiden, Avenged Sevenfold, Slayer e Kiara Rocks. No Sunset, Sepultura e Zé Ramalho fecham a programação de parcerias, que teve ainda Helloween com Kai Hansen, Destruction com Krisiun, e Andre Matos e Viper.

 

Sexto dia

O penúltimo dia de Rock in Rio foi encerrado com uma apresentação animadíssima - e de muito fôlego - do veterano Bruce Springsteen, que completa 64 anos nesta segunda (23). Apesar de repetir algumas estratégias já usadas em São Paulo, como abrir o show com música de Raul Seixas e cair literalmente nos braços da galera ainda nos primeiros minutos, Springsteen inovou ao executar, de ponta a ponta, todas as músicas do álbum "Born in the U.S.A", de 1984, um dos mais emblemáticos da carreira. A apresentação de quase três horas de duração teve ainda um medley de "Twist and Shout" e "La Bamba" na reta final, que não foi mostrado em SP.

 

Passaram também pelo Palco Mundo neste sábado dois exímios guitarristas da nova geração: John Mayer e Phillip Phillips, este último revelado no reality show musical "American Idol". Conhecido tanto pelas namoradas famosas quanto pelo talento no instrumento, Mayer fez um show digno de headliner capaz de abafar até os gritos mais ensurdecedores das fãs nas primeiras filas.

 

Como aconteceu em todos os dias do festival até agora, a abertura dos shows do Palco Mundo ficou por conta de uma banda da casa, desta vez o Skank. No Palco Sunset, conhecido pelos encontros, se apresentaram o cantor italiano Jovanotti com a carioquíssima Orquestra Imperial; os ex-Novos Baianos Moraes Moreira e Pepeu Gomes com a cantora Roberta Sá; e Ivo Meirelles, que recebeu Fernanda Abreu e Elba Ramalho para um show percussivo, que também teve tom de protesto e abriu com integrantes de bateria de samba tocando o Hino Nacional com rosto coberto como black blocs e as famosas máscaras de Guy Fawkes popularizadas pelo grupo Anonymous.

 

O festival

Com Iron Maiden e Slayer entre as atrações principais, a edição 2013 do Rock in Rio termina neste domingo após sete dias de shows. A primeira semana teve shows de Beyoncé, Muse e Justin Timberlake fechando as três noites. Mais roqueira, a segunda metade do festival começou na última quinta-feira, com shows do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, Alice in Chains e os suecos do Ghost BC, que dividiram opiniões com sua apresentação repleta de provocações à igreja católica

 

Na sexta-feira, ficou com o roqueiro galã Bon Jovi a missão de encerrar a noite. O show de mais de duas horas teve ritmo arrastado e sofreu com dois desfalques: o baterista Tico Torres (substituído de última hora por causa de uma operação na vesícula) e o guitarrista Richie Sambora (demitido da banda recentemente por desavenças com Jon). Muitos fãs, no entanto, não se importaram. Uma delas subiu ao palco e até ganhou um selinho do cantor. 

 

A sexta-feira também teve shows de Nickelback e Matchbox Twenty. No Sunset, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite