Muse capricha na tecnologia, mas vacila em repertório de novo DVD
O Muse não tem vergonha alguma da própria grandiosidade. Na verdade, o trio inglês faz questão de potencializar a megalomania da bem-sucedida discografia nos espetáculos ao vivo, e nunca deixa de impressionar visualmente. Não seria diferente em "Live at Rome Olympic Stadium", novo DVD e Blu-ray do grupo que foi filmado em 4K, tecnologia de captação de vídeo que permite imagens quatro vezes mais detalhadas.
Com a difícil missão de traduzir fielmente a experiência estonteante que é ver o Matt Bellamy (voz e guitarra), Chris Wolstenhome (baixo) e Dominic Howard (bateria) ao vivo, "Live at Rome Olympic Stadium" estreou nesta semana em sessões de cinema limitadas ao redor do mundo. No Brasil, a única exibição do filme foi na terça-feira (20) em um cinema no Rio de Janeiro, para uma audiência jovem, mas composta por fãs bem menos barulhentos que na apresentação da última edição do Rock in Rio, em setembro, quando o Muse encerrou a segunda noite do festival.
Muitos ali viram a banda em uma das passagens recentes pelo Brasil --além do Rock in Rio, o trio abriu os shows do U2 por aqui em 2011, e veio em turnê solo em 2008-- mas, diferentemente do que se viu nessas ocasiões, não houve gritos ou euforia durante o filme. Ao apagar das luzes, apenas dois ou três fãs empolgados soltaram discretos "uhu!", constrangidos pela sensação transgressora de fazer barulho em salas de cinema. Após a sessão, mais tranquilidade. Quem passasse desavisado pela saída do cinema poderia pensar que se tratava de um blockbuster qualquer de Hollywood, não da pré-estreia de um dos lançamentos audiovisuais mais aguardados do rock.
Ramon Oliveira, de 18 anos, parecia extasiado após 90 minutos de efeitos visuais caprichados, mas considerou o ambiente estéril demais para apreciação de um show de rock. "Quando você está no show é uma liberdade absurda, você vive para aquilo. No Rock in Rio fiquei 16 horas em pé", lembrou. "Aqui não, é muito confortável. Mas ainda assim eu achei o máximo". Corbin Oliveira, de 20 anos, concordou. "O som estava maravilhoso e eu adorei o setlist, mas não tem igual. Ainda mais para mim, que estava lá na frente no Rock in Rio".
O repertório selecionado também não ajudou. A maior parte das 20 músicas saíram dos dois últimos álbuns da banda: "Resistance" (2009) e o polêmico "The 2nd Law" (2012), que aproximou o Muse da música eletrônica. Por um lado a decisão afastou "Live at Rome Olympic Stadium" de "H.A.A.R.P." --DVD gravado em Wembley, lançado em 2008-- mas por outro evidenciou a ausência de clássicos como "Stockholm Syndrome" e "New Born". Nas canções mais recentes, como a arrastada "Explorers", não era difícil ver gente checando celulares ou puxando conversa com amigos sentados nas poltronas próximas, enquanto em hits mais antigos como "Plug In Baby" e "Time Is Running Out" a parcela menos tímida do cinema carioca parecia contagiada pela animação da plateia italiana.
O 4K --apelidado de "ultra HD"-- permite uma atenção maior em momentos que normalmente passariam despercebidos, como reações individuais na plateia, além de proporcionar um senso maior de realidade nos takes mais próximos da banda, como o close no rosto de Bellamy no início de "Madness". Em altíssima definição também fica mais fácil absorver as inserções teatrais que permeiam algumas faixas: em "Animals", um corretor de ações ganancioso sai dos telões para "morrer" na passarela do palco; em "Feeling Good", uma secretária despeja gasolina cenográfica sobre si mesma e cai inconsciente; e em "Undisclosed Desires", Bellamy invade o backstage e canta ajoelhado diante dos caixões dos dois. Tudo isso embelezado pelo gigantesco palco montado para a ocasião, perfeito para os incessantes efeitos pirotécnicos dignos de uma apresentação do Muse.
Apesar das comemorações sutis ao fim da sessão, "Live at Rome Olympic Stadium" parece ter atendido as expectativas dos presentes, com quase tudo que os fãs do trio esperam de um show da banda. Quase, porque para conseguir reproduzir com total fidelidade o filme deveria vir acompanhado pela multidão emocionada que costuma lotar as apresentações dos ingleses, o que nem o home theater mais potente do mercado poderia simular. Àqueles que sentem falta do calor humano, resta torcer para que o Muse seja confirmado como uma das atrações do Lollapalooza Brasil 2014, como foi adiantado pela imprensa especializada nas últimas semanas.
"Live at Rome Olympic Stadium" tem lançamento nacional previsto para janeiro do ano que vem, em CD, DVD e Blu-ray.
Veja o repertório do show:
01. "Intro"
02. "Supremacy"
03. "Panic Station"
04. "Plug In Baby"
05. "Resistance"
06. "Animals"
07. "Knights of Cydonia"
08. "Explorers"
09. "Hysteria"
10. "Feeling Good"
11. "Follow Me"
12. "Madness"
13. "Time Is Running Out"
14. "Guiding Light"
15. "Undisclosed Desires"
16. "Supermassive Black Hole"
17. "Survival"
18. "The 2nd Law: Isolated System"
19. "Uprising"
20. "Starlight"
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