Topo

Slayer vence som ruim, faz estreia de peso em festival e lembra ex-membro

Mário Barra

Do UOL, no Rio

22/09/2013 20h32

Uma das últimas e mais aguardadas atrações do dia de encerramento do Rock in Rio 2013, o Slayer subiu ao Palco Mundo neste domingo (22) com a expectativa de entregar um show "destruidor" para os fãs na Cidade do Rock, antecipando o entusiasmo dos fãs do metal antes da apresentação do Iron Maiden, que fecha a edição deste ano do festival. Mesmo com problemas de som nas guitarras, o grupo trouxeram um show com apenas 13 músicas, que misturou hits e músicas novas de um dos principais expoentes do thrash metal.

O show começou com problemas na guitarra de Gary Holt, o que atrapalhou o impacto da faixa “World Painted Blood”, mesmo nome do álbum mais recente lançado pela banda, que já tem mais de 30 anos de thrash na bagagem. O som ficou mais baixo do que o show do Kiara Rocks, atração anterior do mesmo palco. Solos de guitarra de Kerry King não conseguiam chegar aos ouvidos do público, especialmente do lado esquerdo de quem olhava para o palco, e a voz do cantor Tom Araya esteve abafada durante algumas músicas.

Mas as adversidades não impediram o Slayer de estrear no Rock in Rio com um repertório equilibrado, mostrando o que de melhor a banda fez desde 1983, passando por álbuns clássicos como "South of Heaven" e "Reign of Blood", este último o mais aclamado da história da banda. O repertório trouxe "porradas" como "Disciple" e "Dead Skin Mask" e pouco tempo para respiro entre as faixas, todas tocadas dentro de um curto tempo de uma hora.

A banda norte-americana costuma ser descrita como a mais pesada do quarteto de ouro do thrash metal, composto também por Metallica, Megadeth e Anthrax. As quatro bandas ajudaram a expandir o alcance do heavy metal, desenvolvendo um estilo musical mais rápido de agressivo e que não se caracterizava pelo glamour de bandas contemporâneas do rock como Poison, Def Leppard e Mötley Crüe. Há também bastante influência do punk rock no estilo e até no som das quatro bandas, o que é reconhecido por King.

O cofundador e guitarrista Jeff Hanneman, que já não tinha comparecido à visita anterior da banda ao Brasil, há dois anos, foi homenageado pelos colegas de banda com imagens no telão durante as três últimas músicas do repertório, o que incluiu "Raining Blood" e “Angel of Death”, as duas últimas as faixas mais famosas do grupo, ambas lançadas na década de 1980.

Hanneman morreu em maio de 2013 por conta de insuficiência hepática. A notícia da perda ocorreu quase ao mesmo tempo que a saída do cultuado baterista Dave Lombardo, demitido do grupo após desavenças por questões contratuais. Mas mesmo com as duas ausências relevantes na escalação recente da banda, a entrada de Paul Bostaph e de Gary Holt, ambos conhecidos pelo trabalho no grupo Exodus, manteve a parte técnica do espetáculo em alto nível.

Holt impressiona no palco pela rapidez de seus solos e foi reconhecido pelo cofundador Kerry King como um substituto quase perfeito. "Não consigo imaginar ninguém melhor que Gary [pra substituir Hanneman]. Talvez Andreas [Kisser, do Sepultura]", disse o músico em entrevista ao canal Multishow logo após o show.

Já Bostaph, que já trabalhou com grupos como Testament e Forbidden, tem menos oportunidades para fazer solos, mas consegue acompanhar a banda com a mesma eficiência do que Lombardo -- em especial no uso do bumbo duplo, uma de suas especializadas que ficam evidentes no show.

Berros e saudações

Ao se dirigir aos fanáticos na linha de frente da plateia pela primeira vez, o vocalista e baixista Tom Araya era a calma em pessoa. Grato pelo carinho do público, somente alterava a voz e berrava para anunciar as músicas, como no clássico "War Ensemble", faixa do disco "Seasons in the Abyss", quinto trabalho de estúdio do grupo e produzido em 1990 por Rick Rubin, nome ligado ao sucesso de diversos artistas do rock como o Red Hot Chili Peppers.

Mais tarde, Araya anunciou a música "Mandatory Suicide" e chamou o Rio de Janeiro de "terra da liberdade", um local que serviria como constraste ao clima mórbido descrito na letra da música.

Já o careca Kerry King, um dos fundadores do grupo, veio ao Rio de Janeiro sem sua tradicional braçadeira repleta de espetos de metal, mas estava tão agressivo no palco quanto o seu adorno favorito. Na entrevista posterior ao show, ele revelou ter "toneladas de músicas prontas" para lançar com o Slayer, mas revelou cautela sobre como lançar as músicas inéditas que Hanneman compôs, sinalizando o desejo de montar um álbum de luxo. "Se for as últimas coisas dele [a serem divulgadas], queria lançar algo digno", disse o músico.

Neste domingo, sétimo e último dia do festival, o Rio de Janeiro recebe o Iron Maiden no encerramento do festival, além do Avenged Sevenfold. Com a missão de abrir o espaço principal, Kiara Rocks investiu em versões de clássicos do rock e a participação de Paul Di Anno, ex-vocalista do Iron Maiden.

Sepultura e Zé Ramalho fecharam a programação de parcerias do Sunset tocando músicas como "A Dança das Borboletas", "Da Lama ao Caos" e "Admirável Gado Novo". Pelo mesmo palco, passaram encontros de diferentes vertentes do metal: Helloween com Kai Hansen, Destruction com Krisiun, e Andre Matos com os ex-colegas de Viper.

Sexto dia

O penúltimo dia de Rock in Rio foi encerrado com uma apresentação animadíssima - e de muito fôlego - do veterano Bruce Springsteen, que completa 64 anos nesta segunda (23). Apesar de repetir algumas estratégias já usadas em São Paulo, como abrir o show com música de Raul Seixas e cair literalmente nos braços da galera ainda nos primeiros minutos, Springsteen inovou ao executar, de ponta a ponta, todas as músicas do álbum "Born in the U.S.A", de 1984, um dos mais emblemáticos da carreira. A apresentação de quase três horas de duração teve ainda um medley de "Twist and Shout" e "La Bamba" na reta final, que não foi mostrado em SP.

Passaram também pelo Palco Mundo neste sábado dois exímios guitarristas da nova geração: John Mayer e Phillip Phillips, este último revelado no reality show musical "American Idol". Conhecido tanto pelas namoradas famosas quanto pelo talento no instrumento, Mayer fez um show digno de headliner capaz de abafar até os gritos mais ensurdecedores das fãs nas primeiras filas.

Como aconteceu em todos os dias do festival até agora, a abertura dos shows do Palco Mundo ficou por conta de uma banda da casa, desta vez o Skank. No Palco Sunset, conhecido pelos encontros, se apresentaram o cantor italiano Jovanotti com a carioquíssima Orquestra Imperial; os ex-Novos Baianos Moraes Moreira e Pepeu Gomes com a cantora Roberta Sá; e Ivo Meirelles, que recebeu Fernanda Abreu e Elba Ramalho para um show percussivo, que também teve tom de protesto e abriu com integrantes de bateria de samba tocando o Hino Nacional com rosto coberto como black blocs e as famosas máscaras de Guy Fawkes popularizadas pelo grupo Anonymous.

O festival

Com Iron Maiden e Slayer entre as atrações principais, a edição 2013 do Rock in Rio termina neste domingo após sete dias de shows. A primeira semana teve shows de Beyoncé, Muse e Justin Timberlake fechando as três noites. Mais roqueira, a segunda metade do festival começou na última quinta-feira, com shows do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, Alice in Chains e os suecos do Ghost BC, que dividiram opiniões com sua apresentação repleta de provocações à igreja católica

Na sexta-feira, ficou com o roqueiro galã Bon Jovi a missão de encerrar a noite. O show de mais de duas horas teve ritmo arrastado e sofreu com dois desfalques: o baterista Tico Torres (substituído de última hora por causa de uma operação na vesícula) e o guitarrista Richie Sambora (demitido da banda recentemente por desavenças com Jon). Muitos fãs, no entanto, não se importaram. Uma delas subiu ao palco e até ganhou um selinho do cantor. 

A sexta-feira também teve shows de Nickelback e Matchbox Twenty. No Sunset, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite