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Opinião: Rock in Rio junta ovelhas negras do rock em noite de bom mocismo

Mariana Tramontina

Do UOL, em São Paulo

21/09/2013 05h39

Muita gente saiu falando que esta sexta-feira (20) foi o dia musicalmente mais fraco do Rock in Rio 2013. Foi um prato cheio para os haters de plantão: Matchbox Twenty, Nickelback e Bon Jovi, um atrás do outro, formando correntes de aversão por onde passam e deixando diversos hits nas rádios. O festival conseguiu juntar três ovelhas negras do rock numa mesma tacada.

Por outro lado, também não faltou gente falando muito bem da escalação. Curioso: neste Rock in Rio, foi o Bon Jovi que colocou os fãs para correr atrás de ingressos. Por causa deles, a data de 20 de setembro foi a primeira a ter entradas esgotadas, tudo em menos de 2h, lá no início das vendas. E para o público do UOL que votou no desafio das bandas do festival, o Bon Jovi é também a terceira melhor banda da programação, ficando atrás apenas de Metallica e Iron Maiden.

Qual foi o melhor show do quinto dia de Rock in Rio 2013?

Resultado parcial

Total de 7187 votos
1,15%
0,79%
1,70%
3,38%
3,14%
20,51%
26,28%
43,04%

Já o grupo de rock canadense de maior sucesso no mundo, o Nickelback escala a casa de 50 milhões de discos vendidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, só perde para os Beatles entre bandas estrangeiras. É um fenômeno de público --ainda que você possa não conhecer ninguém que admita gostar da banda.

O Matchbox Twenty é o representante das FMs dos anos de 1990. Com um vocalista bonitinho à frente, desde sempre fazem músicas com refrão forte, estruturas simples e melódicas. Não tem erro --o que também não quer dizer que seja exatamente bom. É o caso de grande parte do rock radiofônico daquela década, que inclui de Goo Goo Dolls, Third Eye Blind, Train, Lifehouse e até o 30 Seconds to Mars, que se apresentou na semana passada no festival.

E a maioria destes grupos continuam populares em parte porque eles têm apelo entre a platéia feminina. E só alguém muito popular para conseguir arregimentar toda essa aversão.

O som que essas bandas fazem é a cara do Rock in Rio: acessível, sem grandes solavancos, com certo peso e, ao mesmo tempo, romântico. É a trilha do bom mocinho. Música para quem não suporta barulhos extremos, mas que também não gosta de ficar só no pop água com açúcar. São as bandas do meio termo, que costumam fazer um som derivativo e de pouca personalidade --cada um dentro de suas proporcionalidades. O que não dá é para negar que é rock. É só algo que não é legal dizer que você gosta. Ame ou odeie.
 

Nickelback e Matchbox Twenty

O Bon Jovi encerrou a quinta-feira com um show em marcha lenta. Sem o baterista Tico Torres (substituído de última hora) e o guitarrista Richie Sambora (já em situações de conflito na banda há algum tempo), restou para Jon e o tecladista David Bryan defenderem os clássicos da banda. Não deu muito certo, o show estava modorrento. De diferente, estava a fã que subiu ao palco e ganhou selinho de Jon e o cover de "Start Me Up", dos Rolling Stones.

Exemplo clássico do perfil de "ame ou odeie" que parece recair sobre praticamente todas as atrações deste quinto dia de Rock in Rio, os canadenses do Nickelback - liderado por Chad Kroeger, atual marido da cantora Avril Lavigne - são ao mesmo tempo uma das bandas que mais vendeu discos no mundo, mas também uma das mais perseguidas pelos odiadores da internet. Ao contrário do que se poderia esperar, porém, o grupo não teve de enfrentar vaias e foi acompanhado pela plateia do início ao fim da apresentação com um repertório que alternava faixas mais pesadas como "Animals" a baladas como "Photograph" e "How You Remind Me".

Já o Matchbox Twenty ajudou a esquentar o público para o Bon Jovi cantantando sucessos radiofônicos como "3 A.M." e "Unwell" e "Push". "So Sad So Lonely", do álbum "More Than You Think You Are" (2002), com seus solos e pegada mais roqueira, foi uma das faixas que mais cativaram o público, que acompanhou com palmas, enquanto o vocalista descia do palco para cumprimentar o fãs. "Procuramos por isso [tocar no Rock in Rio] durante nossa vida inteira", afirmou o vocalista Rob Thomas logo no início da apresentação.

Velho conhecido do Rock in Rio, Frejat teve a responsabilidade de abrir o Palco Mundo, com show recém-saído do forno. Encarnando um crooner romântico, o cantor e guitarrista deu o pontapé na nova turnê com o sugestivo nome "O Amor é Quente" --título de sua nova música, cujo clipe foi lançado nesta sexta-feira (20) exclusivamente pelo UOL. O tal show novo não teve tantas novidades assim. Fora a música inédita, Frejat cantou "Divino, Maravilhoso", famosa na voz de Gal Costa, "A Minha Menina", de Jorge Ben, e "Não Quero Dinheiro", de Tim Maia, além de sucessos do Barão Vermelho e Cazuza como "Malandragem", "Bete Balanço" e "Pro Dia Nascer Feliz".

No Palco Sunset, conhecido por duetos e encontros de diferentes artistas, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite. O espaço ainda recebeu apresentações The Gift e Afrolata, Grace Potter and The Nocturnals e Donavon Frankenreiter e Mallu Magalhães com a banda Ouro Negro.

Recebida com gritos de "linda" e "maravilhosa" dos fãs, Mallu agradou uma plateia formada essencialmente de jovens. Quando a Banda Ouro Preto, conhecida por acompanhar o jazzista Moacir Santos, ficou sozinha no palco, parte do público começou a dispersar.

A vez do rock no Rio

A segunda parte do Rock in Rio, que se estende até domingo e conta com atrações mais roqueiras e pesadas do que na semana passada, teve início nesta quinta. O destaque da noite foi a apresentação do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, com repertório que revirou praticamente toda a discografia da banda em um show de 2 horas e 10 minutos de duração.

O saudosismo também deu as cartas no show dos veteranos do grunge Alice in Chains, que levaram os fãs de volta ao ano de 1992, época em que a banda lançou "Dirt", um de seus álbuns mais celebrados, que ajudou a compor o repertório da apresentação.

Principal palco do festival, o Mundo teve ainda nesta quinta os brasileiros do Sepultura, que tocaram junto com o grupo francês de percussão Tambours du Bronx, e os suecos do Ghost BC, em sua apresentação performática repleta de provocações à igreja católica que não animou muito o público da Cidade do Rock.

Pelo Palco Sunset, passaram nesta quinta-feira dois antigos conhecidos dos fãs de rock no Brasil: o ex-Skid Row Sebastian Bach e Rob Zombie, que já tinha vindo ao país em 1996 à frente da banda de metal White Zombie.