Com crise econômica e de identidade, "Lolla dos DJs" vê público encolher
O público total do Lollapalooza 2015, de 136 mil pessoas nos dois dias de evento, segundo a organização, é o segundo menor das quatro edições brasileira do festival criado por Perry Farrell. Na comparação mais compatível, em relação ao festival no ano passado, quando os shows ganharam o atual formato fixo de dois dias, migrando do Jockey Club de São Paulo para o autódromo de Interlagos e atraindo 150 mil, a queda é de 9%. Na matemática básica, 14 mil pessoas deixaram de ir este ano ao festival.
Mas por quê? Se tivemos um bom Lolla do ponto de vista logístico e de atrações paralelas de recreação, o mesmo o line-up mostrou pouca força, comparado ao de anos anteriores. Um festival de rock, como é o Lollapallooza, pressupõe grandes atrações de rock. Tivemos bons nomes, de fato. Mas poucas bandas de peso, que atraíssem fãs especialmente dedicados e cujas marcas são capazes de sustentar um evento de tal porte.
Jack White, ex-White Stripes, e Robert Plant, ex-Led Zeppelin, seriam garantias de recorde de ingressos vendidos caso viessem com suas bandas de origem. Não foi o caso. Nem a atração principal da edição deste ano, por sinal, o cantor Pharrell Williams, dono de metade dos hits dos últimos dois anos, foi o bastante para atrair o público – não atraindo tanta gente nem mesmo dentro do autódromo, quando teve de competir com Calvin Harris e Smashing Pumpkins.
Em busca do RG
A escalação do autor de "Happy" para fechar o segundo dia mostra que o Lollapallooza ainda está em busca de seu RG brasileiro e que precisa consolidar sua vocação. O momento econômico que o país atravessa, o pior em mais de uma década, claro, é um empecilho premente para o futuro, mas é possível tirar boas lições neste ano.
Com melhor infraestrutura e serviços, o Lolla 2015 foi o dos artistas pop, mais precisamente o dos DJs. Apesar de soarem como nomes estranhos à maioria dos fãs de música alternativa, Calvin Harris e Skrillex mostraram que o festival acertou ao realocá-los da tenda de música eletrônica para um palco maior. Foram a grande sensação do evento. Das bandas, os americanos do Foster the People foram os únicos a mover montanhas e lotar o palco principal com seus hits radiofônicos.
Se por um lado a proliferação de pick-ups deixa dúvidas sobre uma identidade alternativa construída por Perry Farrell desde os anos 1990, por outro ela pode seguir como um caminho. Por exemplo: na ampliação do espaço dedicado ao eletrônico, com DJs ecléticos, que podem conviver, sim, em harmonia com a escalação de nomes roqueiros mais fortes, como Foo Fighters (que veio em 2012), Pearl Jam (2013) e, na edição do ano passado, o popular Muse.
Com o festival redefinindo seu estilo -- cada vez mais amplo e com vocação para parque de diversões--, é preciso pensar em novo perfil do público. Se, em outros tempos, bandas como Smashing Pumpkins e Radiohead seriam sinônimo de bilheterias de cheias, o futuro pode ser mais diverso, "genérico" e popular. Os anos 1990 parecem, enfim, estar ficando para trás.
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