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Análise: Dia mais estranho do festival também foi o que teve menos público

Alexandre Matias

Colaboração para o UOL, do Rio

26/09/2015 07h00

Tudo estranho neste quinto dia de Rock in Rio 2015. Não bastassem as nuvens, que em certo momento da tarde ameaçaram uma possível chuva (que não aconteceu, fora uma garoa cenográfica após o show do Mastodon e uma chuvinha após o do Faith No More), e um vento fora do comum, o que mais impressionou nesta sexta-feira (25) não foi nenhuma atração.

O que chamou a atenção foi a ausência de público. Para onde se caminhasse pela Cidade do Rock tinha-se a nítida impressão de que o volume de pessoas havia caído talvez pela metade em relação aos outros dias, embora a organização do festival não tenha se pronunciado sobre a baixa frequência. Em todos os shows era possível chegar à grade e assistir às apresentações bem de perto do palco, mesmo nos últimos shows da noite --algo impensável nos quatro dias anteriores.

Fã de Slipknot - Wilton Junior/Estadão Conteúdo - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Fã de Slipknot na grade do show
Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

O público também não tinha unidade. Era fácil identificar os fãs do Slipknot pelas camisetas, mas, fora eles, o resto das pessoas não seguia um padrão fácil de definir. Eram pessoas comuns e poucos vestiam camisetas de banda. Era também um público mais jovem, apesar de também haver casais, famílias, gente mais velha e turmas de amigos. Todos passeando pela Cidade do Rock como se estivessem visitando uma atração turística.

A escalação não ajudava muito. Por mais que o Slipknot seja um neto direto do Faith No More, tanto no som quanto no apreço pela bizarrice, as duas bandas parecem separadas por um oceano --ou, melhor dizendo, por décadas. A empolgação do primeiro contrastou com a do segundo, eleita uma das principais atrações da segunda edição do festival, em 1991, mas que desta vez fez um show apenas burocrático.

A estranheza do dia extrapolava o fato de estarmos assistindo ao terceiro dia dedicado à música pesada. Mas se no sábado do Metallica e na quinta do System of a Down parecia haver uma coesão sonora que unia as diferentes bandas, na sexta vimos um desfile de atrações díspares, que por mais que tivessem em comum o peso do som, iam para lados completamente diferentes.

Pesos opostos

A atração que abriu o Palco Sunset foi mais uma banda cover que se apresentou no festival. O projeto "Clássicos do Terror" reunia músicos de diferentes bandas brasileiras para resgatar trilhas sonoras de trilhas do cinema. Em vez de um show climático e tenso, foi mais um repertório de hits, como o tributo a Cassia Eller ou a banda de Alice Cooper com Johnny Depp. O fato de o show ter acontecido durante o dia também acabou com qualquer possibilidade de criar um clima que lembrasse os filmes homenageados.

O Sunset continuou com esquisitices, como o grupo gótico Moonspell com o vocalista do Sepultura, Derrick Green, e o show solene do Nightwish com o vocalista Tony Kakko, encerrando com um Steve Vai e seu repertório à frente de uma orquestra. O De La Tierra seguiu o clima estranho, principalmente devido ao som do Palco Mundo, que podia estar mais alto como nas outras noites e embolava à medida que o dia virava noite.

Público curte montanha-russa - Fernando Maia/UOL - Fernando Maia/UOL
Público curte montanha-russa
Imagem: Fernando Maia/UOL

Quando o Mastodon subiu ao palco ficou evidente que não teríamos nem de perto a mesma quantidade de público dos outros dias. E quem veio, parecia não estar tão interessado nos shows. Estar no Rock in Rio parecia um programa mais interessante do que assistir às apresentações, confirmando a queda que o festival tem para tornar-se uma espécie de parque temático sobre rock. As poucas filas da noite também estavam mais nos brinquedos do que para comprar comida.

Tanto Mastodon quanto Faith No More foram prejudicados pelo som, nitidamente mais baixo do que nos outros dias. Mas enquanto o Mastodon fez um show vibrante, o Faith No More optou apenas por uma apresentação burocrática, talvez prejudicada pelo tombo que o vocalista Mike Patton levou ao errar o pulo que deu sobre os fãs. Atordoado, ele não conseguiu empolgar o público como costuma fazer em seus shows.

O Slipknot, por sua vez, não teve dificuldade em conquistar a massa --o público que arrodeava o palco era formado por devotos fiéis da banda mascarada. O galope sonoro finamente estremeceu o palco principal, na primeira vez em que o som esteve bom durante o dia. Mas o parco público da sexta já estava de saída --ou aglomerava-se na Rock Street para ficar na Tenda Eletrônica, talvez no dia em que esta esteve mais cheia.