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Apesar de Timberlake, domingo de Rock in Rio foi das mulheres poderosas

Mariana Tramontina

Do UOL, no Rio

16/09/2013 07h21

Não havia, neste primeiro final de semana de Rock in Rio, ninguém mais aguardado do que Justin Timberlake. Nem mesmo Beyoncé, que se apresentou na sexta-feira, causou tanta comoção coletiva --provavelmente porque não fazia tanto tempo desde sua última visita ao Brasil, em 2010. Com o título de "lenda" no currículo, recebido durante o Video Music Awards 2013, o ex-'N Sync tinha mesmo muito o que mostrar para o público brasileiro desde que esteve no país, ainda com a boy band, no Rock in Rio de 2001.

Em sua primeira visita ao Brasil em carreira solo, Justin não selecionou o melhor de seu repertório --o miolo da apresentação, por exemplo, passou arrastado e sem clímax. Ainda assim, o popstar já estava com jogo ganho e seu show foi classificado entre adjetivos que variavam de perfeito a divino. Mas, apesar de todos os olhos voltados para os passos, o visual e o carisma de Justin, o domingo foi mesmo das mulheres com personalidade. Aquelas poderosas de verdade.

Uma das mulheres mais desejadas da programação do festival, Alicia Keys se deu bem ao ser escalada para antecipar o show de Justin. O soul moderno da cantora caiu certeiro para o R&B descolado da atração principal. Linda, elegante e de curvas invejáveis, Alicia é modesta no palco e não trabalha com artifícios que possam roubar as atenções do que realmente importa: ela mesma. Seja cantando, tocando ou fazendo merchand, a nova-iorquina mantém o nível da apresentação elevado.

Ultrapolitizada com mensagens anti-materialistas e de superação, Jessie J também não cai em armadilhas. Dona de um visual radical e com uma fiel escuderia de fãs, ela tem carisma e é realmente uma boa cantora, com uma competente extensão vocal. E, mesmo com poucos grandes hits na manga, Jessie não apela para truques baratos de entretenimento feminino.

A neozelandesa Kimbra --que ficou mais conhecida pela participação na música e no clipe de "Somebody That I Used to Know", do Gotye-- não chega a ser superpoderosa, mas também passa longe da proposta de mulher devoradora de homens. Além do rostinho bonito, Kimbra também exala criatividade em seus clipes e performances, e mantém uma voz singular, que equilibra traços vocais de cantoras como Björk e Regina Spektor.

Quem procurava por mulheres poderosas no Rock in Rio teve a chance de vê-las neste primeiro final de semana de festival. Além de Alicia, Jessie e Kimbra, outras personalidades fortes que circularam pela programação foram Beyoncé, Ivete Sangalo, Florence Welch e Maria Rita. Com exceção de Mallu Magalhães e Roberta Sá, aparentemente perdidas no line-up, a próxima semana será retomada por marmanjos e homens poderosos.

O que já rolou

A quinta edição brasileira do Rock in Rio teve sua primeira parte concluída neste final de semana. O festival, na Cidade do Rock, no Rio de Janeiro, volta a acontecer na quinta-feira (19) e segue até o dia 22 de setembro, com uma programação que inclui nomes como Metallica, Bruce Springsteen, Bon Jovi e Iron Maiden.

Este domingo (15) ficou marcado menos pela apresentação irregular de Justin Timberlake e mais pelas vozes femininas de Alicia Keys, Jessie J e Kimbra.

Vestida com uma roupa sensual e um chapéu preto, Alicia apresentou um repertório com clássicos de sua carreira, inspirada pela black music e o hip-hop. Com hits românticos como "You Don't Know My Name", tocado ao piano, ou nos momentos mais enérgicos, como na nova "Girl on Fire", mostrou que é capaz de hipnotizar a plateia brasileira, à qual se apresenta pela primeira vez. O show teve ainda uma participação de Maria Gadú, convocada de supresa para dividir os vocais com Alicia em "Fallin'".

Mais cedo, o público vibrou com a cantora de 25 anos - e diversos hits do momento na bagagem - Jessie J. De visual novo, a britânica subiu ao palco usando maiô colorido, um par de brincos gigantes e, amparada por uma banda mais roqueira. Engajada em causas sociais, cantou logo de cara os versos de seu maior hit, "Price Tag": "Não precisamos de seu dinheiro, apenas queremos fazer o mundo dançar, esquecer da etiqueta de preço".

No Palco Sunset, o dia teve ainda a interessante apresentação da neozelandesa Kimbra, que cantou ao lado dos baianos do Olodum para relembrar a música "They Don't Really Care About Us", de Michael Jackson. A abertura dos shows ficou com a portuguesa Aurea, acompanhada da banda The Black Mamba.

A programação do sábado (14) foi encerrada pelos britânicos do Muse, com seu rock de arena que mistura elementos de música indie, sons progressivos e efeitos de distorção estridentes. Com hits como "Supermassive Black Hole" cantados em coro pelo público, a banda favorita da escritora Stephenie Meyer, dos livros da série "Crepúsculo", conseguiu convencer com um show de alto nível mesmo depois de uma noite repleta de apresentações intensas como a do Thirty Seconds to Mars e de Florence + The Machine.

O segundo dia de Rock in Rio também trouxe opções para roqueiros veteranos, em uma espécie de matinê punk concentrada no Palco Sunset, pelo qual passaram os californianos do The Offspring e Marky Ramone, que revisitou clássicos dos Ramones ao lado do vocalista Michael Graves, ex-Misfits.

Entre os destaques nacionais, o sábado teve apresentações que misturaram rock e política. A Capital Inicial emocionou fãs ao tocar uma música de Charlie Brown Jr. para lembrar as mortes recentes de Champignon e Chorão. Já o Detonautas Roque Clube voltou aos primórdios do rock brasileiro em um show com convidados só tocando covers de Raul Seixas.

Tico Santa Cruz usou uma camiseta onde se lia "Senado Federal, Vergonha Nacional", e Dinho Ouro Preto usou nariz de palhaço e criticou o escândalo recente envolvendo o deputado Natan Donadon, que manteve o cargo apesar de ter sido preso por corrupção.

O primeiro dia do evento teve shows de Maria Rita, Living Colour,  DJ David GuettaIvete Sangalo e Beyoncé, entre outros, e uma homenagem ao cantor Cazuza.