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Em volta aos anos 80, Iron Maiden faz melhor show da noite de heavy metal

Mário Barra

Do UOL, em Rio

22/09/2013 23h53

A banda britânica Iron Maiden participou pela terceira vez do Rock in Rio, encerrando a edição de 2013 do evento com um repertório dominado por músicas antigas, que celebram a trajetória da banda e se confundem com a própria história do heavy metal, estilo musical que dominou as atrações deste domingo (22).

O repertório, mesmo apresentado pelo grupo em São Paulo na sexta-feira, recupera faixas da turnê "Maiden England", que divulgava o álbum "Seventh Son of a Seventh Son", de 1988. A fase é considerada uma das mais importantes da banda, que viveu seu auge durante a primeira estadia do vocalista Bruce Dickinson, do final de 1981 até 1993, um ano após o lançamento do disco "Fear of the Dark", responsável por renovar por pelo menos mais uma década o legado do grupo.

  • Setlist do Iron Maiden no Rock in Rio

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Nos primeiros instantes, antes de a banda entrar ao palco, os telões mostravam imagens de icebergs, aves de rapina e paisagens, aumentando o nível de expectativa dos fãs, que encararam filas enormes desde cedo no dia mais concorrido do festival. Pouco tempo se passa até uma explosão indicar a entrada meteórica da banda, com Dickinson dando o primeiro de uma série incontável de saltos em um espetáculo à parte.

Curiosamente, o frontman de 55 anos continua o mesmo das apresentações anteriores no Rock in Rio - em 1985 e 2001, esta que rendeu a gravação de um DVD e CD ao vivo. Dono do palco que parece desenvolvido para suas corridas, ele gesticula e brinca com o pedestal de seu microfone, passeia por cima de uma câmera móvel, troca de roupa inúmeras vezes e, claro, dá pulos impressionantes para um roqueiro de sua idade. (Paul Di'Anno, o vocalista original do Iron Maiden, que saiu em 1981 logo após o lançamento do álbum "Killers", não teria a mesma desenvoltura mesmo que quisesse, a julgar pelo tamanho em que ressurgiu no festival, também neste domingo, como convidado da banda Kiara Rocks, no palco Sunset).

Ao se dirigir ao público, Dickinson é menos criativo, apela para sua marca registrada - os chamados de "Scream for me Braziiiil" (gritem por mim, Brasil) - e os lugares-comuns de todo gringo: cachaça, caipirinha e churrasco. Mas a estratégia batida é tão eficiente para ganhar a atenção do público quanto as suas piruetas.

Ao introduzir a faixa "Afraid to Shoot Strangers", de "Fear of the Dark", o público bradou mais uma versão do canto futebolístico "olê, olê, olê, olê", como de praxe em shows que agradam.

A noite reservaria uma série de coros durante refrãos das músicas mais aguardadas, começando com "Can I Play With Madness", "The Trooper" e "The Prisoner". Pulos da multidão tomariam conta da Cidade do Rock durante faixas como "Phanton of the Opera" e "Number of the Beast", introduzidas no miolo do repertório, trecho que marca o ápice do show.

Mas Dickinson ainda é capaz de surpreender, especialmente quando aparece em sua versão mais bizarra no palco, usando devilock vampiresco, corte de cabelo da banda de horror punk Misfits, durante a faixa "Seventh Son of a Seventh Son".

Mais conservadores, outros rostos famosos do grupo como o baixista e fundador Steve Harris e o guitarrista Dave Murray arriscam poucas corridas, mas seguem cada vez melhores quanto à rapidez e à versatilidade de seus dedos. O baterista Nicko McBrain, escondido atrás de pratos altos, mantém o nível técnico da apresentação tão bem quanto os guitarristas Adrian Smith e Janick Gers.

Nos momentos em que os músicos brilham, Dickinson se ocupa com brincadeiras com a plateia, faz caretas e ainda aproveita para fazer merchand da cerveja da banda, Trooper.

O carismático boneco mascote gigante Eddie - que estampa praticamente todas as capas de discos do Iron Maiden e sempre dá as caras a certa altura do show do grupo - encerra o arsenal de atrações vestindo um uniforme ao estilo "Três Mosqueteiros" durante as músicas "Run to the Hills" e "Wasted Years". A roupa é parecida com a usada por Dickinson durante o clássico "The Trooper", na qual carrega a bandeira do exército do Reino Unido.

Foram 100 minutos de puro heavy metal, que encerraram bem o último dia de atrações do Rock in Rio com o hit "Running Free", primeiro single oficial da história do Iron Maiden, lançado em 1980. A organização do Rock in Rio elevou o nível das atrações de metal em 2013, trazendo grupos com legiões de fãs como Slayer, Destruction e Avenged Sevenfold, mas o posto de melhor show da noite -- na acepção completa da palavra -- ficou com a "Donzela" mais uma vez.

Resumo da ode ao metal

A celebração do legado do Iron Maiden no Rock in Rio de 2013 serviu como um desfecho apropriado para um dia que celebrou o heavy metal, um estilo de difícil apreciação e que é seguido com fervor pelos fãs. Nos palcos Mundo e Sunset, a música da banda podia ser detectada, por conta da extensa influência nas vertentes do gênero musical apresentadas no último dia do evento.

Um exemplo é o Slayer, segunda atração do palco principal neste domingo. Lembrada como uma das quatro bandas que levaram o nome do thrash metal ao patamar do mainstream ao lado de Metallica, Megadeth e Anthrax, o grupo construiu uma boa reputação na década de 1980 por conta da agressividade de suas músicas, voltadas para um universo de sangue e demônios. No Rock in Rio, a lealdade dos fãs foi testada por conta de problemas técnicos com o som e a ausência de Jeff Hanneman e Dave Lombardo, membros com longa carreira na banda.

Já o Avenged Sevenfold, que subiu ao palco imediatamente antes do Iron Maiden, também utilizou a mesma fonte do grupo britânico, fazendo uma apresentação performática, que serviu para "calar a boca" dos fãs mais xiitas dos grupos mais antigos que dividiram o Palco Mundo. Também houve tempo para o Iron Maiden ser lembrado durante o show dos brasileiros do Kiara Rocks, que trouxeram o cantor Paul Di'Anno para se apresentar, o primeiro vocalista da "Donzela".

Já no Palco Sunset, uma versão diferente do Sepultura, maior banda de metal do Brasil, foi mostrada com a presença do paraibano Zé Ramalho. O power metal do Helloween, que se apresentou ao lado do guitarrista Kai Hansen, cofundador do grupo e atualmente no Gamma Ray, também foi afetado pelo som ruim, uma constante no local, que reuniu apresentações com falhas de som ao longo de todo o festival. Com som similar ao grupo alemão, André Matos e o Viper também estiveram no Rock in Rio, abrindo o último dia.

Mas para a história do festival, talvez a apresentação da dupla Destruction e Krisiun seja quase tão emblemática quanto a do Iron Maiden, por conta do ineditismo. O metal extremo trazido pelos gaúchos agradou aos fãs do death metal, mais um "filhote" do heavy metal, mais rápido e agressivo que o pai.

Sexto dia

O penúltimo dia de Rock in Rio foi encerrado com uma apresentação animadíssima - e de muito fôlego - do veterano Bruce Springsteen, que completa 64 anos nesta segunda (23). Apesar de repetir algumas estratégias já usadas em São Paulo, como abrir o show com música de Raul Seixas e cair literalmente nos braços da galera ainda nos primeiros minutos, Springsteen inovou ao executar, de ponta a ponta, todas as músicas do álbum "Born in the U.S.A", de 1984, um dos mais emblemáticos da carreira. A apresentação de quase três horas de duração teve ainda um medley de "Twist and Shout" e "La Bamba" na reta final, que não foi mostrado em SP.

Passaram também pelo Palco Mundo neste sábado dois exímios guitarristas da nova geração: John Mayer e Phillip Phillips, este último revelado no reality show musical "American Idol". Conhecido tanto pelas namoradas famosas quanto pelo talento no instrumento, Mayer fez um show digno de headliner capaz de abafar até os gritos mais ensurdecedores das fãs nas primeiras filas.

Como aconteceu em todos os dias do festival até agora, a abertura dos shows do Palco Mundo ficou por conta de uma banda da casa, desta vez o Skank. No Palco Sunset, conhecido pelos encontros, se apresentaram o cantor italiano Jovanotti com a carioquíssima Orquestra Imperial; os ex-Novos Baianos Moraes Moreira e Pepeu Gomes com a cantora Roberta Sá; e Ivo Meirelles, que recebeu Fernanda Abreu e Elba Ramalho para um show percussivo, que também teve tom de protesto e abriu com integrantes de bateria de samba tocando o Hino Nacional com rosto coberto como black blocs e as famosas máscaras de Guy Fawkes popularizadas pelo grupo Anonymous.

O festival

Com Iron Maiden e Slayer entre as atrações principais, a edição 2013 do Rock in Rio termina neste domingo após sete dias de shows. A primeira semana teve shows de Beyoncé, Muse e Justin Timberlake fechando as três noites. Mais roqueira, a segunda metade do festival começou na última quinta-feira, com shows do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, Alice in Chains e os suecos do Ghost BC, que dividiram opiniões com sua apresentação repleta de provocações à igreja católica

Na sexta-feira, ficou com o roqueiro galã Bon Jovi a missão de encerrar a noite. O show de mais de duas horas teve ritmo arrastado e sofreu com dois desfalques: o baterista Tico Torres (substituído de última hora por causa de uma operação na vesícula) e o guitarrista Richie Sambora (demitido da banda recentemente por desavenças com Jon). Muitos fãs, no entanto, não se importaram. Uma delas subiu ao palco e até ganhou um selinho do cantor. 

A sexta-feira também teve shows de Nickelback e Matchbox Twenty. No Sunset, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite