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Springsteen e Dickinson, dois Bruces com o dom para comandar multidões

José Norberto Flesch*

Do UOL, no Rio

23/09/2013 05h37

O Rock in Rio teve dois comandantes de plateia nesta edição. Ambos têm o mesmo nome, mas mostram capacidades diferentes para conduzir multidões. De um lado está o cantor americano Bruce Springsteen, 64 anos completados nesta segunda (23). Do outro, o inglês Bruce Dickinson, 55, vocalista do Iron Maiden.

Como diz seu biógrafo Peter Ames Carlin, autor de "Bruce", Springsteen representa a essência do sonho americano. Como seu viu no Rock in Rio, no sábado, ele faz shows em que busca a interação com a plateia o tempo todo. Vai até o público, joga-se sobre ele, deixa-se ser tocado, chama pessoas para o palco, deixa-as cantar ou dançar, tira foto junto. É o exemplo do bom moço, um sinônimo de homem de família. E alimenta isso com um repertório de soft rock que pode ser cantado por desde avôs até netos.

A plateia reage com entusiasmo à performance de Springsteen. Interage prontamente, quando ele pede, e esquece, ainda que temporariamente, a distância entre ídolo e fã.

Dickinson, que cantou com o Maiden nesta madrugada, no show de encerramento do Rock in Rio, não tem contato corporal com seu público, mas consegue conduzi-lo com uma simples frase ou um mexer de braços. Os fãs o tratam como fiéis que seguem seu pregador. Da mesma forma que o americano, o inglês reúne gerações de uma mesma família para vê-lo, normalmente pais metaleiros que apresentam o trabalho de três décadas da banda aos filhos.

Springsteen vive da música. Dickinson é também piloto profissional de aviões, inclusive da própria aeronave da banda, profissão que alterna com a de cantor, e ainda começa a se destacar como homem de negócios. Vem ao Brasil, inclusive, no início de 2014, para dar uma palestra sobre empreendedorismo.

Os dois Bruces também têm em comum a energia que mostram ao vivo. O americano tem ficado mais de três horas no palco, em cada show, e o inglês chega a dar saltos durante a performance. São dois capitães que, cada um à sua maneira, demonstram uma vitalidade que é refletida na plateia em forma de admiração.

DUELO DOS BRUCES

Bruce SpringsteenBruce Dickinson
Idade:
64 anos
Idade:
55 anos
Nacionalidade:
americano
Nacionalidade:
inglês
Educação:
Chegou a frequentar a universidade comunitária
Ocean County, em New Jersey, mas nunca se formou
Educação:
Formado em história, é doutor honorário em música na Universidade Queen Mary, de Londres
Hobby:
Golfe
Hobby:
É piloto de avião
Bandas:
E Street Band, The Sessions Band, Steel Mill
Bandas:
Iron Maiden, Samson, Speed
Principais álbuns:
"Born to Run", "Darkness on the Edge of Town" e
"Born in the U.S.A."
Principais álbuns:
“The Number of the Beast”, “Piece of Mind” e “Powerslave”
Participações no Rock in Rio:
1
Participações no Rock in Rio:
3
Reconhecimento:
Um dos principais nomes da música americana,
já venceu 20 prêmios Grammy, dois Globos de Ouro e um Oscar. Entrou para o Rock and Roll Hall of Fame em 1999
Reconhecimento:
Há mais de 30 anos é considerado um dos melhores e mais influentes vocalistas da história do heavy metal

 

Fim de festival

A edição 2013 do Rock in Rio terminou na madrugada desta segunda-feira (23), com a celebração do legado do Iron Maiden, uma das bandas mais importantes da história do heavy metal, um estilo de difícil apreciação, mas que é seguido com fervor pelos fãs. Nos palcos Mundo e Sunset, a influência musical da banda comandada por Bruce Dickinson e Steve Harris podia ser detectada em diversas atrações, dos brasileiros do Viper aos americanos do Avenged Sevenfold, ídolos da nova geração de fãs de música pesada.

O domingo, último dia de festival, também teve como destaque o Slayer, segunda atração do palco principal. Lembrado como uma das quatro bandas que levaram o nome do thrash metal ao patamar do mainstream ao lado de Metallica, Megadeth e Anthrax, o grupo construiu uma boa reputação na década de 1980 por conta da agressividade de suas músicas, repletas de referências a sangue e demônios. No Rock in Rio, a lealdade dos fãs foi testada por problemas técnicos com o som e a ausência de Jeff Hanneman, morto recentemente, e o ex-baterista Dave Lombardo, membros com longa carreira na banda.

Já o Avenged Sevenfold, que subiu ao palco imediatamente antes do Iron Maiden, fez uma apresentação performática, que serviu como uma espécie de "cala boca" para os fãs mais xiitas dos grupos veteranos com que dividiram o Palco Mundo. Também houve tempo para o Iron Maiden ser lembrado durante o show dos brasileiros do Kiara Rocks, que trouxeram o cantor Paul Di'Anno para se apresentar, o primeiro vocalista da "Donzela".

Já no Palco Sunset, uma versão diferente do Sepultura, maior banda de metal do Brasil, foi mostrada com a presença do paraibano Zé Ramalho. O power metal do Helloween, que se apresentou ao lado do guitarrista Kai Hansen, cofundador do grupo e atualmente no Gamma Ray, também foi afetado pelo som ruim, uma constante no local, que reuniu apresentações com falhas de som ao longo de todo o festival. Com som similar ao do grupo alemão, André Matos e o Viper também estiveram no Rock in Rio, abrindo o último dia.

Mas para a história do festival, talvez a apresentação da dupla Destruction e Krisiun seja quase tão emblemática quanto a do Iron Maiden, por conta do ineditismo. O metal extremo trazido pelos gaúchos agradou aos fãs do death metal, mais um "filhote" do heavy metal, mais rápido e agressivo que o pai.

Penúltimo dia

O penúltimo dia de Rock in Rio foi encerrado com uma apresentação animadíssima - e de muito fôlego - do veterano Bruce Springsteen. Apesar de repetir algumas estratégias já usadas em São Paulo, como abrir o show com música de Raul Seixas e cair literalmente nos braços da galera ainda nos primeiros minutos, Springsteen inovou ao executar, de ponta a ponta, todas as músicas do álbum "Born in the U.S.A", de 1984, um dos mais emblemáticos da carreira. A apresentação de quase três horas de duração teve ainda um medley de "Twist and Shout" e "La Bamba" na reta final, que não foi mostrado em SP.

Passaram também pelo Palco Mundo neste sábado dois exímios guitarristas da nova geração: John Mayer e Phillip Phillips, este último revelado no reality show musical "American Idol". Conhecido tanto pelas namoradas famosas quanto pelo talento no instrumento, Mayer fez um show digno de headliner capaz de abafar até os gritos mais ensurdecedores das fãs nas primeiras filas.

Como aconteceu em todos os dias do festival até agora, a abertura dos shows do Palco Mundo ficou por conta de uma banda da casa, desta vez o Skank. No Palco Sunset, conhecido pelos encontros, se apresentaram o cantor italiano Jovanotti com a carioquíssima Orquestra Imperial; os ex-Novos Baianos Moraes Moreira e Pepeu Gomes com a cantora Roberta Sá; e Ivo Meirelles, que recebeu Fernanda Abreu e Elba Ramalho para um show percussivo, que também teve tom de protesto e abriu com integrantes de bateria de samba tocando o Hino Nacional com rosto coberto como black blocs e as famosas máscaras de Guy Fawkes popularizadas pelo grupo Anonymous.

O festival

Com Iron Maiden e Slayer entre as atrações principais, a edição 2013 do Rock in Rio termina neste domingo após sete dias de shows. A primeira semana teve shows de Beyoncé, Muse e Justin Timberlake fechando as três noites. Mais roqueira, a segunda metade do festival começou na última quinta-feira, com shows do Metallica, que voltou ao festival após dois anos, Alice in Chains e os suecos do Ghost BC, que dividiram opiniões com sua apresentação repleta de provocações à igreja católica

Na sexta-feira, ficou com o roqueiro galã Bon Jovi a missão de encerrar a noite. O show de mais de duas horas teve ritmo arrastado e sofreu com dois desfalques: o baterista Tico Torres (substituído de última hora por causa de uma operação na vesícula) e o guitarrista Richie Sambora (demitido da banda recentemente por desavenças com Jon). Muitos fãs, no entanto, não se importaram. Uma delas subiu ao palco e até ganhou um selinho do cantor. 

A sexta-feira também teve shows de Nickelback e Matchbox Twenty. No Sunset, o destaque foi o show de Ben Harper, que estreou no Rock in Rio ao lado do lendário bluesman Charlie Musselwhite

* Colaboraram Mario Barra e Leonardo Rodrigues