"Deve ter sido aqueles 5 minutos de fúria", diz Marcão sobre Champignon
O músico Luiz Carlos Leão Duarte Junior, de 35 anos, o Champignon, ex-baixista do Charlie Brown Jr., estava chateado com as críticas à nova banda, A Banca, e com as comparações com o ex-companheiro e amigo Chorão, segundo os relatos da empresária das duas bandas, Samantha Jesus, e do guitarrista Marcão durante o velório do músico nesta segunda-feira (9).
“Ele já mostrava um descontentamento, mas nada que chegasse a esse ponto. Estava se sentindo muito pressionado pelas coisas que todos diziam, a comparação com o Chorão feita por vários fãs, era muito visível que isto estava incomodando ele. Eu acredito que foi um pontinho que começou, mas nunca ninguém imaginava esse desfecho, até porque ele não tinha um comportamento depressivo”, disse Samantha.
Segundo a empresária, as irritações com algumas críticas vinham deixando Chapignon “um pouquinho mais exaltado, um pouco mais bravo”.
“Não, foram só essas situações que levaram a isso, mas também a morte do amigo Chorão, a questão da gente ter que resolver um novo futuro e decidir montar uma outra banda e com um outro nome. Enfim toda essa pressão dele ter que largar o baixo e assumir o vocal, acredito que ele não aguentou tudo isso”, opinou.
Não dava para passar pela cabeça imaginar isso e acredito que nem da dele. A verdade é que deve ter sido aqueles cinco minutos de fúria, que ele perdeu o controle, ou por um motivo ou por vários
Marcão, guitarristaMarcão, que também acompanhou o colega nas duas bandas, disse que a morte é um choque muito grande justamente por ser “um cara muito alto astral, um cara muito bom, um cara muito divertido”.
O guitarrista disse que os integrantes da banda sabiam do desafio de continuar e encarar o público do Charlie Brown e que deixar de tocar baixo – em A Banca, a baixista Lena assumiu o instrumento, enquanto Champignon ficou apenas nos vocais – foi “uma atitude corajosa”.
“A gente sabia que iria ser cobrado, que ele principalmente iria sofrer uma pressão muito grande, até porque todo mundo continuou a fazer sua função como músico e ele não. Ele foi pra frente, largar o baixo foi uma atitude extremamente corajosa e olha que ele amava aquele baixo. E, por isso, ele deve ter tido seus momentos difíceis com relação às criticas dessa nova situação”, disse Marcão.
Apesar disso, o guitarrista acredita que a ideia de acabar com a própria vida não passava pela cabeça do amigo. “Não dava para passar pela cabeça imaginar isso e acredito que nem da dele. A verdade é que deve ter sido aqueles cinco minutos de fúria, que ele perdeu o controle, ou por um motivo ou por vários”, afirmou. E completou que qualquer tentativa de encontrar a causa do ato é "complexa".
“É importante as pessoas tomarem muito cuidado com todas essas informações para que não se determine em vão que isso possa ter sido a causa, porque pra mim tudo isso é muito complexo, ninguém aqui tem o direito de teoriza aquilo que não se tem certeza, então vou me limitar a isso que eu falei, mas não deixo de observar que os problemas que ele estava enfrentando são problemas comuns que todo mundo tem um pouco”.
Para Di Ferrero, vocalista do NX Zero e fã do Charlie Brown Jr., Champignon não “assumiu” o lugar de Chorão na banda e quem o criticava “talvez tenha se equivocado”.
“Na minha opinião, ele não assumiu, ele fez outra banda, junto com a galera. E foi legal da parte dele e honrado, por entender toda a situação. Acho que talvez a galera tenha se equivocado um pouco ao falar disso”, declarou.
Di contou ainda que conversou bastante com o amigo sobre sua função como vocalista na nova banda: “Ele sempre foi um cara afinado e cantava bem pra caramba, mas agora ele estava com mais a manha de tempo de show, de agitar a galera no palco. Eu falava para ele disso, que ele estava mais malandro, mais malaco e sacando mais esse universo”.
Em entrevista ao programa "Encontro com Fátima Bernardes", nesta terça-feira (10), a irmã Eliane Duarte falou que o baixista via Chorão como a um pai e que a morte do vocalista do Charlie Brown Jr. não foi superada pelo melhor amigo. "O filho não puxa ao pai? Foi isso o que aconteceu", disse ela. Eliane também contou que ficou preocupada com o teor da última conversa que teve com o irmão. "Ele dizia que estava muito triste e que se sentia sozinho e sem amigos".
Questionadas sobre o uso de drogas, as irmãs afirmaram que Champignon não era usuário. “Ele não usava drogas, o exame de toxicologia vai mostrar isso, meu irmão era uma pessoa limpa”, disse Eliane.
Entenda o caso
Champignon foi encontrado morto no início da madrugada desta segunda, em seu apartamento, com um tiro no lado direito na cabeça. Segundo o boletim de ocorrência registrado no 89º Distrito Policial de São Paulo, em depoimento prestado pela viúva do músico, Cláudia Campos, ele ingeriu saquê no restaurante que jantou na noite de domingo com a mulher e o casal de amigos Oscar e Juliana.
Ainda segundo o documento, foram consumidas duas garrafas de saquê no restaurante, mas não especifica se todos beberam ou apenas Champignon. Durante o jantar, a mulher --grávida de cinco meses-- contou que ela e o marido tiveram uma discussão e, ao chegar em casa, o músico se dirigiu para o estúdio/escritório e não deixou que ela entrasse no cômodo. Em seguida, ela ouviu dois disparos e o corpo caindo ao chão.
Segundo a delegada Milena Suegama, do 89º Distrito Policial, ele deu dois disparos com uma pistola calibre 380. O primeiro tiro teria sido um teste e foi feito em direção ao chão, e o segundo foi do lado direito da cabeça. A polícia trabalha com a hipótese de suicídio.
Testemunho de vizinhos
Vizinho de Champignon, o corretor de imóveis Alexandre Banaion relatou que ouviu um barulho de tiro vindo do apartamento do músico por volta da meia-noite, seguido de gritos da mulher e latidos do cachorro do casal. Ele foi até a casa, onde encontrou a mulher do músico chorando e gritando: "Amor, você não fez isso".
Muito nervosa, Cláudia contou à delegada que discutiu com Champignon, mas declarou que o marido não era um homem agressivo e não usava drogas ou medicamentos controlados. Ela foi levada para um hospital em estado de choque por volta das 2h30 e liberada às 6h40. Champignon tinha ainda uma filha de 7 anos de seu primeiro casamento, e segundo um tio a menina está com a mãe e já sabe da morte do pai.
A pistola, outra arma, celulares e computadores foram apreendidos. A delegada informou que não encontrou qualquer vestígio de drogas no apartamento. Familiares disseram à polícia que o músico estava chateado com a imprensa, por conta das críticas negativas sobre a nova banda, A Banca.
O síndico do prédio esteve na delegacia para entregar imagens das câmeras de segurança. Em entrevista ao "SPTV", da Rede Globo, ele admitiu que uma imagem pode levantar suspeita de agressão. "Prefiro não comentar. Eu vou deixar por conta da doutora [delegada]", declarou Gino Castro.
Comunicados
Nas páginas oficiais das bandas Charlie Brown Jr. e A Banca no Facebook, a equipe dos grupos confirmaram a morte do músico através de comunicados. "A Família Charlie Brown Júnior comunica, com pesar, o falecimento do baixista Champignon, que participou de grande parte das formações da banda. Desde já agradecemos todas as manifestações de apoio dos fãs neste momento doloroso, e externamos nosso apoio à esposa, filha e todos os demais familiares", dizia o texto na página do Charlie Brown, primeiro a ser publicado.
Júnior Lima, que foi companheiro do baixista na banda Nove Mil Anjos, disse estar em choque. "Acordei agora com a noticia do Champ! Tô em choque! Perdi mais um irmão! Nao tô conseguindo acreditar! Pqp! Alguém sabe o por quê? Se ele deixou algum recado? O que que aconteceu? Tô perdido aqui sem informações! NÃO CONSIGO ACREDITAR!", escreveu no Twitter.
O caso ocorre seis meses após a morte de Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., no dia 6 de março, em São Paulo. O laudo apontou overdose de cocaína como a causa da morte do cantor. Em maio, outro músico que tocou com Champignon, Peu Sousa, foi encontrado morto enforcado com um cinto amarrado no pescoço.
Na época, Champignon disse não saber por que o amigo se mataria e disse acreditar que ele havia "perdido a fé". "Estou muito triste. Exatamente dois meses após a morte do Chorão, vem o Peu. Que ano!", disse ele. E acrescentou: "Não sei porque ele faria isso, mas acredito que ele perdeu a fé em viver. Se a pessoa vive sem fé, não importa se é em alguma religião ou em outra coisa, não tem como continuar".
O começo de Champignon
Aos 12 anos de idade, Luiz Carlos começou a tocar como baixista logo após conhecer Chorão, em Santos (SP), onde moravam. Juntos, eles formaram a banda What's Up. Posteriormente, Chorão e Champignon convidaram o baterista Renato Pelado, que já tocava com outras bandas da cidade. Mais tarde, Marcão e Thiago Castanho completaram a primeira formação do grupo, que ainda não levava o nome oficial de Charlie Brown Jr.
Em 1993, a banda começou a se destacar em Santos e Chorão procurou o produtor musical Rick Bonadio, que gostou do som e os contratou. Na época, Champignon era menor de idade e, sempre que a banda se apresentava em casas noturnas, era preciso levar uma autorização judicial para que o jovem baixista acompanhasse o grupo.
Entre 1999 e 2006, a banda Charlie Brown Jr. conquistou espaço na mídia e se tornou conhecida por todo o Brasil. No entanto, Champignon e Chorão tiveram algumas desavenças. Em 2005, o baixista deixou o grupo e, quatro anos depois, ele se juntou a Júnior Lima, irmão de Sandy, para formar a banda Nove Mil Anjos.
Já em 2011, Champignon retornou ao Charlie Brown Jr. Ele fez parte da gravação do CD e DVD "Música Popular Caiçara", lançado em março de 2012. Permaneceu na banda até o seu final, quando, em março deste ano, Chorão morreu de overdose de drogas.
Após 22 anos de Charlie Brown Jr., visando eternizar a formação original da banda, Champignon, Graveto, Marcão Britto e Thiago Castanho decidiram que deveriam manter a união e deram continuidade à carreira da banda, que ganhou novo nome e nova formação. O projeto foi batizado como A Banca, e Champignon assumiu os vocais.
Em abril, durante a participação do grupo no programa "Altas Horas", Champignon falou com exclusividade para o UOL sobre voltar à cena. "Se ficássemos em casa, morreríamos também. Temos que ir para a estrada, precisamos disso. É a nossa vida. Por que a gente iria ficar trancado em casa se a gente gosta mesmo é de tocar?".
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