"Amo você, professor", diz Lena, baixista de A Banca, sobre Champignon
A baixista de A Banca, banda montada com remanescentes do Charlie Brown Jr. após a morte de Chorão, Lena Papini, falou nas redes sociais sobre a morte de Champignon e homenageou seu “professor”. “Uma dor devastadora. Uma tristeza que jamais senti. Amo você, professor. #Luto”, escreveu Lena no Twitter na madrugada desta terça-feira, durante o velório do baixista no Cemitério Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos.
Aos jornalistas, Lena disse que conhecia o músico há muito tempo e que sempre se espelhou nele para seu trabalho. "Eu ficava muito feliz quando encontrava com ele e a gente conversava muito, ele me elogiava bastante", lembrou a jovem.
Ao falar sobre as críticas e comparações com Chorão, a artista disse que "tem pessoas que não respeitam nem o sofrimento".
“Sempre fiquei fora dessas notícias [as críticas]. Nós sabemos que cobranças existem, mas agora com o universo da internet todo mundo quer dar sua opinião e quer ter razão sobre tudo. Ninguém sabe o que o cara passou quando o Chorão morreu, ninguém sabe do profissional que tem por trás, você que é músico sabe bem como é isso. E a gente fica muito triste cara porque tem pessoas que não respeitam isso, nem o sofrimento. No futuro eu espero que algumas pessoas coloquem a mão na cabeça e tomem consciência do que falou, onde quis tocar, ter mais responsabilidade com o ser humano", desabafou.
Lena foi anunciada como baixista da nova banda em abril, no lugar de Champignon, que passou a assumir os vocais. Na época, em entrevista ao UOL, ela fez reverência ao músico, morto na madrugada de segunda-feira (9). "Agora é uma ansiedade porque batalhei a vida toda para isso acontecer. Preparado a gente nunca está, né? Mas é uma responsa, e o Champ está me dando uma puta força", disse.
Última aparição
Luiz Carlos Leão Durante Junior, o Champignon, subiu ao palco pela última vez 24 horas antes de ser encontrado morto em seu apartamento em São Paulo. Na noite do último sábado (7), o baixista participou do show do Rappa, em Lorena, no interior de São Paulo. Ao lado do vocalista da banda, Marcelo Falcão, Champignon cantou um dos maiores sucessos do Charlie Brown Jr., “Zóio de Lula”.
Na segunda-feira (9), Falcão lamentou a morte do músico e relembrou o show de sábado. “Quem estava em Lorena viu que o Champ tava bem e feliz, cantando comigo!! Que Deus ajude sua esposa, filha & todos integrantes da Banca! Estou muito triste”, escreveu no Twitter.
O Rappa também publicou um vídeo em homenagem ao baixista, com imagens das muitas vezes em que eles dividiram o palco, incluindo trechos da última apresentação, em Lorena.
Repercussão
"Muito triste com a notícia da morte do Champignon... Que ele fique em paz. R.I.P. Champs", Sandy, pelo Twitter
"Se tinha uma figura que eu gostava e admirava no rock nacional era o Champignon! Sangue muito bom, camarada e um dos melhores baixistas que já pisaram neste planeta! Estou completamente arrasado", Gastão Moreira, ex-VJ da MTV, pelo Facebook.
"Minha tristeza é enorme com a morte do querido Champignon. Uma tragédia. Outro amigo da música que se vai jovem", Serginho Groisman, apresentador de TV, pelo Twitter.
"Tava pronto pra dormir e me vem uma notícia dessas. O que diabos está acontecendo com esse mundo? Que encontre a paz que não encontrou aqui.", Lucas Silveira, vocalista da Fresno
"Estivemos juntos no último capítulo de Malhação. Ele tentava se reerguer da perda do parceiro. Trollado por muitos. Valeu, Champignon. Obrigado pelas belas canções. Isto é o que vai ficar.", Leo Jaime
"Vai com Deus, Champs. Fica em paz onde estiver. Força para os meus irmãos que ficaram, pra família...", Di Ferrero, vocalista do NxZero
"E assim de mãos dadas a vida segue do lado de la... Desimada uma das maiores bandas que o Brasil ja produziu.... Do talento musical à sabedoria popular... Das frases marcantes aos protestos sutis... Vai em paz parceiro.... Fica no ar agora o som do silêncio....", Kiko, do KLB
"Infelizmente a música perde mais um grande guerreiro pra depressão. Em casa, e supõe-se que se suicidou. Acordei agora com essa notícia e não tenho palavras para demonstrar minha tristeza em perder esse amigo. Que Deus conforte a sua alma e cuide da família e de todos os que o amavam", Péricles, músico
"Perdi o sono no meio da noite, e soube de mais uma batalha perdida!! Mais um artista, homem,filho,marido e futuro pai se foi!#RIPChampignon", Monique Evans
"Não to acreditando... #Triste Descanse em paz Champignon. #RipChampignon", Dado Dolabella
"Champignon descanse em paz!!!!! muito muito triste!!!!", Preta Gil
"Champignon morreu,meu Deus.Que absurdo.Que coisa mais triste.", Lobão
"Esteja em paz , Champignon. Colega bacana. Mundo louco. Descanse em paz, mano", Emicida
"Porra, Champignon, que merda! ...:(", Roger Moreira
"Que notícia mais triste. Poxa, Champignon. Você tinha uma vida inteira pela frente. :-(((", Didi Wagner
"Estado completo de Choque com a notícia sobre o Champignon !", Tico Santa Cruz
"Estou triste com a notícia sobre o Champignon. Como assim? Tão jovem...", Sabrina Sato
"Chorão e Champignon: vão brigar e fazer as pazes por lá por toda a eternidade! Era assim que eles se amavam!", Sônia Abrão
Entenda o caso
Champignon foi encontrado morto no início da madrugada desta segunda, em seu apartamento, com um tiro no lado direito na cabeça. Segundo o boletim de ocorrência registrado no 89º Distrito Policial de São Paulo, em depoimento prestado pela viúva do músico, Cláudia Campos, ele ingeriu saquê no restaurante que jantou na noite de domingo (8) com a mulher e o casal de amigos Oscar e Juliana.
Ainda segundo o documento, foram consumidas duas garrafas de saquê no restaurante, mas não especifica se todos beberam ou apenas Champignon. Durante o jantar, a mulher --grávida de cinco meses-- contou que ela e o marido tiveram uma discussão e, ao chegar em casa, o músico se dirigiu para o estúdio/escritório e não deixou que ela entrasse no cômodo. Em seguida, ela ouviu dois disparos e o corpo caindo ao chão.
Segundo a delegada Milena Suegama, do 89º Distrito Policial de São Paulo, ele deu dois disparos com uma pistola calibre 380. O primeiro tiro teria sido um teste e foi feito em direção ao chão, e o segundo foi do lado direito da cabeça. A polícia trabalha com a hipótese de suicídio.
Testemunho de vizinhos
Vizinho de Champignon, o corretor de imóveis Alexandre Banaion relatou que ouviu um barulho de tiro vindo do apartamento do músico por volta da meia-noite, seguido de gritos da mulher e latidos do cachorro do casal. Ele foi até a casa, onde encontrou a mulher do músico chorando e gritando: "Amor, você não fez isso".
Muito nervosa, Cláudia contou à delegada que discutiu com Champignon, mas declarou que o marido não era um homem agressivo e não usava drogas ou medicamentos controlados. Ela foi levada para um hospital em estado de choque por volta das 2h30 e liberada às 6h40. Champignon tinha ainda uma filha de 7 anos de seu primeiro casamento, e segundo um tio a menina está com a mãe e já sabe da morte do pai.
A pistola, outra arma, celulares e computadores foram apreendidos. A delegada informou que não encontrou qualquer vestígio de drogas no apartamento. Familiares disseram à polícia que o músico estava chateado com a imprensa, por conta das críticas negativas sobre a nova banda, A Banca.
O síndico do prédio esteve na delegacia para entregar imagens das câmeras de segurança. Em entrevista ao "SPTV", da Rede Globo, ele admitiu que uma imagem pode levantar suspeita de agressão. "Eu vou deixar isso para a polícia dizer", declarou Gino Castro.
Comunicados
Nas páginas oficiais das bandas Charlie Brown Jr. e A Banca no Facebook, a equipe dos grupos confirmaram a morte do músico através de comunicados. "A Família Charlie Brown Júnior comunica, com pesar, o falecimento do baixista Champignon, que participou de grande parte das formações da banda. Desde já agradecemos todas as manifestações de apoio dos fãs neste momento doloroso, e externamos nosso apoio à esposa, filha e todos os demais familiares", dizia o texto na página do Charlie Brown, primeiro a ser publicado.
Júnior Lima, que foi companheiro do baixista na banda Nove Mil Anjos, disse estar em choque. "Acordei agora com a noticia do Champ! Tô em choque! Perdi mais um irmão! Nao tô conseguindo acreditar! Pqp! Alguém sabe o por quê? Se ele deixou algum recado? O que que aconteceu? Tô perdido aqui sem informações! NÃO CONSIGO ACREDITAR!", escreveu no Twitter.
O caso ocorre seis meses após a morte de Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., no dia 6 de março, em São Paulo. O laudo apontou overdose de cocaína como a causa da morte do cantor. Em maio, outro músico que tocou com Champignon, Peu Sousa, foi encontrado morto enforcado com um cinto amarrado no pescoço.
Na época, Champignon disse não saber por que o amigo se mataria e disse acreditar que ele havia "perdido a fé". "Estou muito triste. Exatamente dois meses após a morte do Chorão, vem o Peu. Que ano!", disse ele. E acrescentou: "Não sei porque ele faria isso, mas acredito que ele perdeu a fé em viver. Se a pessoa vive sem fé, não importa se é em alguma religião ou em outra coisa, não tem como continuar".
O começo de Champignon
Aos 12 anos de idade, Luiz Carlos começou a tocar como baixista logo após conhecer Chorão, em Santos (SP), onde moravam. Juntos, eles formaram a banda What's Up. Posteriormente, Chorão e Champignon convidaram o baterista Renato Pelado, que já tocava com outras bandas da cidade. Mais tarde, Marcão e Thiago Castanho completaram a primeira formação do grupo, que ainda não levava o nome oficial de Charlie Brown Jr.
Em 1993, a banda começou a se destacar em Santos e Chorão procurou o produtor musical Rick Bonadio, que gostou do som e os contratou. Na época, Champignon era menor de idade e, sempre que a banda se apresentava em casas noturnas, era preciso levar uma autorização judicial para que o jovem baixista acompanhasse o grupo.
Entre 1999 e 2006, a banda Charlie Brown Jr. conquistou espaço na mídia e se tornou conhecida por todo o Brasil. No entanto, Champignon e Chorão tiveram algumas desavenças. Em 2005, o baixista deixou o grupo e, quatro anos depois, ele se juntou a Júnior Lima, irmão de Sandy, para formar a banda Nove Mil Anjos.
Já em 2011, Champignon retornou ao Charlie Brown Jr. Ele fez parte da gravação do CD e DVD "Música Popular Caiçara", lançado em março de 2012. Permaneceu na banda até o seu final, quando, em março deste ano, Chorão morreu de overdose de drogas.
Após 22 anos de Charlie Brown Jr., visando eternizar a formação original da banda, Champignon, Graveto, Marcão Britto e Thiago Castanho decidiram que deveriam manter a união e deram continuidade à carreira da banda, que ganhou novo nome e nova formação. O projeto foi batizado como A Banca, e Champignon assumiu os vocais.
Em abril, durante a participação do grupo no programa "Altas Horas", Champignon falou com exclusividade para o UOL sobre voltar à cena. "Se ficássemos em casa, morreríamos também. Temos que ir para a estrada, precisamos disso. É a nossa vida. Por que a gente iria ficar trancado em casa se a gente gosta mesmo é de tocar?".
*Com reportagem de Douglas Moura
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