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"Foi inveja", diz pai de MC Daleste durante enterro do funkeiro

Centenas de fãs acompanham o enterro de Daniel Pellegrine, conhecido como MC Daleste, no cemitério da Vila Formosa, região leste de São Paulo - Mariana Pasini/UOL
Centenas de fãs acompanham o enterro de Daniel Pellegrine, conhecido como MC Daleste, no cemitério da Vila Formosa, região leste de São Paulo Imagem: Mariana Pasini/UOL

Mariana Pasini

Do UOL, em São Paulo

08/07/2013 09h59

O funkeiro Daniel Pellegrine, conhecido como MC Daleste, foi enterrado por volta de 9h40 desta segunda-feira (8), no cemitério da Vila Formosa, na região leste de São Paulo.

Centenas de fãs acompanharam o enterro cantando músicas do artista, como "Angra dos Reis", com os versos "Eu sou Daleste. Cheguei mas tô saindo fora, / Vim chamar as tops, vem, mas só se for agora, / Angra dos reis 40 graus, eu quero baile funk, / De 1100 rolé vai adiante".

Segundo estimativa da Guarda Civil Municipal, cerca de 20 mil pessoas passaram pelo velório desde às 16h de domingo.

  • Mariana Pasini/UOL

    Roland Ribeiro Pellegrine, pai de Daniel Pellegrine, o MC Daleste, durante o enterro do funkeiro no cemitério da Vila Formosa, na região leste de São Paulo

MC Daleste, que tinha 20 anos, morreu após ser atingido por um tiro no tórax, por volta das 22h30 de sábado, enquanto cantava em uma festa julina no bairro San Martin, em Campinas (a 93 km de São Paulo).

Questionado durante o enterro, o pai do MC, Roland Ribeiro Pellegrine, afirmou que o motivo da morte "foi inveja". "Inveja. Inveja mata", disse. Roland afirmou que está "arrasado" e criticou o tratamento da imprensa, que, segundo ele, nunca havia dado atenção ao filho até sua morte. O pai de Daniel também afirmou que o músico não tinha inimigos e que "ele era um menino muito bom, super carismático, dócil".

"Eu esperava muitos anos pra frente [do filho]", disse Roland. "Ele ia ser o rei do funk. Ia ou nao ia?", afirmou, para então ser ouvido um grande coro de "Ia!" dos fãs que estavam à sua volta.

Os fãs de MC Daleste, em grande maioria adolescentes, chegaram a causar um pequeno tumulto quando o portão de acesso aos jazigos foi fechados para que só os familiares entrassem. Algumas pessoas tentaram dar a volta no cercado para procurar outra entrada. Na sequência, o portão foi reaberto e o público pode acompanhar o enterro.

Banalidade e movimento contra a violência

Também presente no enterro, um dos colegas de Daleste, o MC Leo da Baixada comentou com tristeza a banalidade de mortes no funk.

"Parece que já está ficando normal, o pessoal já esta se acostumando com isso [mortes no funk]. O do Daleste foi um fato que chocou mais pelo vídeo. Ele no palco querendo alegrar todo mundo e acontece isso daí. Tem gente que não tem coração", disse.

O funkeiro disse também concordar com o pai de Daleste sobre o sentimento de inveja ter motivado o crime. "Fazer isso no palco ainda. Se fosse alguma rivalidade pegava no palco depois escondido, algo do tipo. Pegar o cara na profissão, alegrando um monte de gente, de crianca." Leo da Baixada alegou desconhecer qualquer rivalidade que Daleste pudesse possuir.

Aos 21 anos, o funkeiro gravou "Ostentação Fora do Normal" com Daleste. "Ele sempre foi muito bom com todo mundo, como ajudou vários MCs, acabou me ajudando também. Ele era diferenciado, falava o que ninguám conseguia falar. Usava as palavras que todo mundo usava mas passava outra expressão. [O funk] perdeu uma peça principal, vai ser difícil pra todo mundo."

Perguntado sobre o medo de fazer shows, disse que "com certeza [dá medo]. O medo nunca acabou, só tinha amenizado. O artista é tratado como lixo, pelo menos no nosso funk, que tem esse preconceito, é tratado como lixo."

Durante o enterro, o produtor de eventos Rodrigo GR6 afirmou que os funkeiros devem organizar um movimento contra a violência no funk. Ainda sem data marcada, eles esperam ir às ruas. "A gente quer um basta porque ja virou uma palhaçada. Estão acabando com o nosso funk, perdemos uma joia do funk", disse.

Investigação

O caso está sendo investigado como homicídio simples. De acordo com a Polícia Militar, o funkeiro fazia um show em uma festa julina no CDHU do bairro de San Martin, em Campinas, quando foi atingido. Mais de 5 mil pessoas acompanhavam a apresentação, segundo estimativa da PM. Um fã que estava na plateia registrou o momento em que Daniel foi baleado e publicou o vídeo na internet. 

A vítima chegou a ser socorrida e levada para o Hospital Municipal de Paulínia. Ao UOL, a instituição informou que a bala atingiu o tórax do cantor. Ele foi levado para o centro cirúrgico, mas morreu à 0h55.

O Boletim de Ocorrência foi registrado no 4º DP do Taquaral, mas o inquérito será aberto pelo 7º DP de Barão Geraldo, responsável pela área onde ocorreu o crime. Em paralelo, a Divisão de Homicídios da Delegacia de Investigações Gerais de Campinas também investigará o caso

"Meu irmão não tinha inimigos, ele era da paz. Não consigo imaginar quem possa ter feito isso com ele. Quero justiça. O criminoso tem que ser preso", afirmou ao UOL Rodrigo Pellegrine, 26 anos, irmão e parceiro musical de Daleste. Rodrigo estava no palco no momento em que o MC foi baleado.

Daleste fazia parte do grupo de funkeiros que canta "funk ostentação" ou "funk paulista", em que temas de preocupação social dão lugar a letras sobre dinheiro, marcas de roupa, carros, bebidas, joias e mulheres. O funkeiro cantava os hits "Gosto Mais do que Lasanha" e "Mais Amor Menos Recalque", esse último já foi reproduzido mais de 1 milhão e 600 mil vezes no YouTube. Em outra canção, "Apologia", o MC escreveu "Matar os policia é a nossa meta / Fala pra nois quem é o poder / Mente criminosa coração bandido / Sou fruto de guerras e rebeliões".