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Em Recife, Dominguinhos é velado com música por fãs, amigos e familiares

Gabriela Guerra

Do UOL, em Recife

25/07/2013 08h42Atualizada em 25/07/2013 13h01

Fãs e amigos do cantor e compositor Dominguinhos prestaram homenagens ao artista no velório na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), em Recife, nesta quinta-feira. Ao longo da manhã, sanfoneiros tocaram alguns dos grandes sucessos do músico, e um padre rezou uma missa de 40 minutos sua memória.

Um grupo de fãs aguardava desde as 3h da manhã a abertura da casa para poder acompanhar o velório do pernambucano, que morreu nesta terça-feira, por complicações cardíacas e infecciosas, aos 72 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele lutava contra um câncer no pulmão e fazia sessões de quimioterapia havia seis anos. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, decretou luto de três dias no Estado em virtude da morte do artista.

Às 8h, quando as portas do local foram abertas, cerca de 50 fãs já se agrupavam para se despedir do sanfoneiro. Um grupo veio de Fortaleza para prestar homenagem. Entre eles, estava o jovem músico Freitas Filho, de 17 anos, que contou ao UOL que foi convidado para tocar no palco com Dominguinhos em um dos últimos shows do músico em Fortaleza. Outro grupo de sanfoneiros tocava os sucessos de Dominguinhos dentro da Assembleia. 

Fizemos diversos show juntos e algumas gravações. Dominguinhos trouxe para a cidade a matutice do forró e o modernizou. Ele estava sempre alegre, tratava todos bem

Alcimar Monteiro, músico

Quando imprensa e público foram liberados para entrar na Alepe, os filhos de Dominguinhos Liv e Mauro Moraes e a viúva Guadalupe Mendonça já estava próximos ao caixão. Também acompanhava o velório o forrozeiro Alcimar Monteiro, amigo de Dominguinhos há 30 anos. "Fizemos diversos show juntos e algumas gravações. Dominguinhos trouxe para a cidade a matutice do forró e o modernizou. Ele estava sempre alegre, tratava todos bem", disse. O prefeito de Recife, Geraldo Julio, disse que Dominguinhos é um exemplo para os jovens músicos e um exemplo de vida pela sua luta contra o câncer.

Alguns fãs usam chapéu de couro branco, uma marca do músico. Também prestaram uma homenagem emocionante os sanfoneiros locais que entoam os clássicos como "Amizade Sincera", "Eu Só quero um Xodó" e "Lamento Sertanejo". Entre eles estão os sanfoneiros Cezzinha e Waldonys, e os cantores Israel Filho e Cristina Amaral. 

Bastante abalada, a viúva Guadalupe Mendonça falou sobre os últimos dias de Dominguinhos. "Ele foi um guerreiro, lutou muito contra essa doença e contrariou as previsões dos médicos. A gente tinha um trato de não falar sobre morte, mas nos últimos dias ele estava muito debilitado e devagar foi perdendo as forças", relembrou ela. 

Missa
No final da manhã, Joselino Tavares abriu a celebração de uma missa em memória de Dominguinhos cantando "Ai Que Saudade D'Ocê". Na cerimônia de 40 minutos, o pároco reuniou os artistas presentes – também estavam no local Nando Cordel e Genival Lacerda – e cantaram "Ave Maria Sertaneja", imortalizada na voz de Luiz Gonzaga.

"Dominguinhos foi se juntar a Sivuca, Luiz Gonzaga e Marinez. Imagina como o céu está em festa", disse o padre.

Ao final da cerimônia, ele convidou os presentes para a missa de sétimo dia de Dominguinhos, na segunda-feira, na Capela de Nossa Senhora da Conceição, no Parque das Jaqueiras, zona norte da capital pernambucana.

Enterro
De acordo com a filha de Dominguinhos, o velório na Assembleia vai até as 16h desta quinta, quando o corpo será levado para o Cemitério Morada da Paz, em Paulista, onde será seputaltado. "Ele tem que ficar aqui na nossa terra. Amamos nossa terra", disse a viúva Guadalupe Mendonça, ao UOL.

Mais cedo, a víuva chegou a dizer que o velório poderia se estender por mais alguns dias, de acordo com a vontade dos fãs. "Embalsamei o corpo com uma validade de cinco dias, se nesse prazo ainda tiver fã que queira vir se despedir ficarei aqui ao lado dele", comentou.

Velório em São Paulo
Nesta quarta-feira, o corpo do pernambucano foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo durante a manhã e parte da tarde . Durante o velório, Dominguinhos recebeu um Grammy latino póstumo pelo disco "Iluminado". O prêmio foi concedido em 2012 mas só foi entregue nesta quarta para a viúva do músico, Guadalupe Mendonça.

Artistas como Roberta Miranda e Frank Aguiar compareceram ao local para se despedir do músico. "O Brasil está de luto e triste. Dominguinhos foi um dos maiores músicos, nos ensinou muito, principalmente na parte humana. Era uma pessoa muito afável e querida, rico de alma. Todos os músicos brasileiros, e ninguém dirá ao contrário, amam o Dominguinhos", afirmou Aguiar.

Roberta Miranda, que fez parcerias com Dominguinhos durante a carreira, afirmou que não teve coragem de ver o corpo do sanfoneiro durante o velório, mas que decidiu comparecer para prestar solidariedade à família.

"Meu pai não tinha defeito"
Muito emocionado, o filho do cantor e compositor Dominguinhos, Mauro da Silva Moraes, lamentou a morte do pai. "Meu pai não tinha defeito, não", afirmou, citando as características do músico que mais o marcaram. "Eu só guardarei coisa boa dele, era generoso demais", disse ao UOL na noite de terça.

Para o radialista Paulinho Rosa, amigo pessoal de Dominguinhos, o principal a se lembrar do músico é seu legado para a cultura brasileira. "Talvez um dos maiores gênios que tivemos", disse, citando em seguida aquilo que quem era mais próximo do sanfoneiro podia ver de perto. "Era especial, generoso, sempre muito bom."
 
O compositor Yamandú Costa se disse "arrasado" com a notícia. "É tudo muito triste. Acabei de saber da notícia e estou arrasado. Hoje o Brasil está de luto. Vou fazer um show aqui no Sul, estou rodeado por amigos dele. Hoje o meu show vai ser dedicado a ele. Não sei que música vou cantar, porque estou sem reação ainda", disse.
 
Chico Buarque lamentou a perda de "um amigo e um parceiro querido." Outra artista de peso, a sambista Beth Carvalho, destacou a falta que Dominguinhos vai fazer. "Ele era um grande compositor e uma grande pessoa. Estou lamentando profundamente a morte dele", disse a cantora.
 
Ivete Sangalo desejou paz a Dominguinhos. "Sentirei saudade do seu sorriso, mas você é maravilhoso e nos deixou a sua música", escreveu. Frank Aguiar também aludiu ao paraíso para celebrar o artista. "Mestre Dominguinhos, que Deus te receba num cantinho mais especial do Céu!"
 
Os cantores Fagner, Elba Ramalho, Flávio José, Nando Cordel, Geraldo Azevedo, Jorge de Altinho e Liv Moraes farão um show em homenagem a Dominguinhos no dia 25 de julho, em Recife (PE). A renda será destinada à família, para ajudar nos custos da hospitalização e do funeral do músico.
 

Nascido em 1941, José Domingos de Morais, o Dominguinhos, veio de uma família humilde de Garanhuns (PE) e herdou os dotes musicais de seu pai, Chicão, que era sanfoneiro. Com seis anos de idade, aprendeu a tocar sanfona e ia a feiras livres para arrecadar dinheiro.

Quando criança, ele formou o trio Os Três Pinguins com seus dois irmãos Moraes (sanfona) e Valdomiro (malê, uma espécie de zabumba). Aos nove anos, já era proficiente em sanfonas de 48, 80 e 120 baixos. Logo depois, ele conheceu Luiz Gonzaga na porta de seu hotel. O músico ficou impressionado e chamou Dominguinhos para ir ao Rio de Janeiro. Mais tarde, ele fez parte da equipe de Luiz Gonzaga e foi reconhecido por cantores da Bossa Nova, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Elba Ramalho e Toquinho.

A cantora pernambucana Anastácia fazia parte do grupo de Gonzaga e não demorou a fazer parte da vida de Dominguinhos. Os dois iniciaram uma parceira dentro e fora dos palcos, que os levou ao casamento.

No entanto, o casamento com Anastácia não deu certo e Dominguinhos acabou se envolvendo com outra cantora, também pernambucana, Guadalupe. Os dois se casaram e a festa contou com convidados ilustres como Luiz Gonzaga e Genival Lacerda.

O primeiro disco de Dominguinhos foi "Fim de Festa", lançado em 1964". O último foi "Yamandu + Dominguinhos", em 2008. Ao longo dessas décadas de carreira, lançou dezenas de discos. 

Em 2002, Dominguinhos foi vencedor do Grammy Latino com o CD “Chegando de Mansinho”. Já em 2010, ele foi vencedor do Prêmio Shell de Música.

Entenda o quadro de saúde
Dominguinhos deu entrada no hospital Hospital Santa Joana, em Recife, no dia 17 de dezembro, com arritmia cardíaca e infecção respiratória. No dia 22, precisou passar por uma cirurgia para a colocação de um marca-passo cardíaco temporário por conta da arritmia.

O cantor foi submetido a uma traqueostomia e hemodiálise. Dominguinhos ficou sem sedação e, mesmo assim, não se comunicava com a família e médicos. No dia 8 de janeiro, ele sofreu uma parada cardíaca no hospital, que foi revertida. A pedidos dos familiares, no dia 13 de janeiro, Dominguinhos foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês em São Paulo.

Em março, Mauro chegou a declarar que o quadro do pai era irreversível. A família já havia sido informada do estado de saúde do músico havia alguns meses, mas somente nessa época Mauro decidiu divulgar a informação, em respeito aos fãs.

"Estava tentando resguardar meu pai, mas essa é uma informação que as pessoas precisam saber. Dominguinhos é uma pessoa pública e adorada no Brasil inteiro. Muitas pessoas me perguntavam sobre meu pai e acho que chegou a hora de falar", disse ao UOL.

Diagnosticado com câncer de pulmão havia seis anos, Dominguinhos sofreu um princípio de infarto no início de 2011, quando foi internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.  Ele foi submetido a um cateterismo e a uma angioplastia. Por conta de seu estado de saúde, começou a cancelar shows no final de 2011.